AKG K370

INTRODUÇÃO

Há menos de dez anos atrás, o mercado era cheio de earbuds e de full-sizes, mas fones intra-auriculares eram praticamente inexistentes, reservados para o mercado profissional.

Felizmente, a situação mudou. Hoje, a oferta de IEMs de todos os preços é imensa, abrangendo ofertas desde meros 15 reais até mais de 3 mil – sem impostos. As marcas mais tradicionais de fones logicamente não demoraram para perceber a rentabilidade desse mercado. Entretanto, uma marca que pareceu demorar a sair dos earbuds foi a AKG, tradicionalíssima marca austríaca de fones de ouvido e microfones.

Hoje ela possui alguns IEMs, mas é muito claro que esse não é o foco da marca, já que são poucos modelos. O topo de linha é o AKG K370. Ao contrário do que posssa parecer pelo status da marca, ele não está posicionado no topo do mercado de intra-auriculares universais. Ao invés disso, está num patamar de preço onde a competição é enorme, já que é por volta do máximo que um consumidor comum, que preza por uma boa qualidade de som, está disposto a gastar – devido a esse fato, a oferta de boas alternativas por preços semelhantes é imensa. A AKG definitivamente tem um desafio pela frente.

 

ASPECTOS FÍSICOS

b002pu9osck370prA construção é nada menos que primorosa. Ele é feito de plástico, e portanto é leve e resistente. Vem com uma gama de ponteiras, mas preferi usar as Comply T400 que já tinha porque se encaixa melhor nos meus ouvidos. É bem confortável, mas costumo gostar de usar o cabo por trás das orelhas, o que é impossível com o K370 porque o aliviador de tensão no fio é muito grande.

Ele vem com a melhor caixinha para transporte que já vi! É grande mas portátil, possui vários compartimentos e é muito bem construída e luxuosa. Um outro acessório é um pequeno extensor, que não sei exatamente para que serve.

Um outro detalhe é que ele possui um microfone in-line para o uso com celulares, mas é algo que não uso visto que nunca uso fones com o celular. Mas, para alguns, pode ser um fator decisivo.

 

O SOM

O K370, numa primeira audição, apresenta uma sonoridade relativamente equilibrada, aveludada e mais quente. A AKG parece ter escolhido uma linha interessante entre o musical e o analítico, apesar de eu achar que o fone se encaixa melhor na segunda categoria.

No entanto, a primeira impressão não é a de um equilíbrio tonal dos melhores.

Vou explicar melhor: algo que acontece frequentemente com fones mid-fi, é um efeito que foi muito bem descrito pelo Rafael na comunidade Fones High-End do orkut – não encontrei um jeito melhor de descrever a sensação: é como se o som estivesse sofrendo algum tipo de pressão. Acho que essa característica deve-se ao fato de haver um vale nos médio-agudos, e então existe, efetivamente, um buraco entre os médios e os agudos. É uma sensação estranha, mas que já ouvi diversas vezes em fones dinâmicos de preços semelhantes – como o Sony EX90 e, em menor escala, no Denon C551.

Essa característica influencia fortemente no equilíbrio tonal, e surte um efeito, na minha opinião, muito indesejável em diversos gêneros musicais. Por exemplo, ouvir rock ou metal não é uma experiência prazerosa. O que acontece é que, em músicas com muita atividade numa gama de frequências muito extensa, a música soa como uma “massa” de som, e, para mim, essas são as músicas que melhor mostram o equilíbrio tonal de um fone, já que a voz dele, assim como a quantidade de determinadas faixas de frequência em relação às outras, fica muito evidente. Nesses casos, esse buraco entre os médios e agudos soa muito estranho e não natural, adicionando uma característica gritante à música. Addicted do P.O.D., assim como My Sacrifice do Creed, mostram muito bem essa característica – na minha opinião, o resultado nesses gêneros é sofrível.

Esse vale é uma ressalva à sonoridade decididamente quente do fone, adicionando uma certa frieza desagradável ao K370, que se não fosse por isso seria extremamente prazeroso e relaxante de se ouvir. É como se essa característica colocasse pedras dentro de um travesseiro que seria incrivelmente confortável. O conforto ainda está ali, mas é atrapalhado por esses defeitos.

A frieza também é curiosa pelo fato de parecer destacar os agudos e recuar um pouco os médios, principalmente em rock. O som fica, de certa forma, pequeno, o que é contraditório visto que em músicas mais calmas, como jazz e pop, o AKG parece pintar uma imagem grande do acontecimento musical; muito maior, por exemplo, que o Ultimate Ears Super.fi 5vi.

Uma audição mais atenta revela que, apesar desse grande problema, o trunfo do K370, curiosamente, está nos médios. Não me lembro de ter ouvido um fone nessa faixa de preço que apresenta médios com essa qualidade. Nos estilos certos, são postos um pouco mais para frente, têm ótima presença e demonstram uma liquidez invejável. Esse fato é muito claro ouvindo o álbum Três, do Nosso Trio – as guitarras do Kiko Faria em Veracruz são lindas. Nesses gêneros, a sonoridade parece aberta e com um bom palco sonoro e ótima separação instrumental  para um IEM, o que não acontece com rock e metal.

Vozes femininas também adquirem uma delicadeza fantástica, uma característica que não costumo encontrar em muitos fones. O Super.fi 5vi, por exemplo, em comparação, mostra uma granulação considerável nos médios, além de uma certa rispidez. Ele simplesmente não tem a desenvoltura do AKG nesse quesito. É um prazer ouvir, por exemplo, o novo álbum da Fredrika Stahl, Sweep Me Away. A voz da sueca, extremamente delicada e sensível, é renderizada muito bem. Tina Dico é uma outra outra cantora que se aproveita das qualidades do K370.

Os graves podem ser considerados um outro ponto forte desse fone. Por ser dinâmico, não é a última palavra em textura ou definição – o Super.fi 5vi, de armadura balanceada, se sai melhor nesses aspectos. No entanto, já vi cenários piores; para um dinâmico, ele definitivamente não se sai mal. Em compensação, possui um bom impacto, característica ausente em fones de armadura balanceada razoáveis. Ele é vítima, porém, do famoso mid-bass hump (é como um boost na região média dos graves). Essa é uma característica muito usada pela indústria de fones, porque fornece uma sensação de mais graves, o que pode, em muitas situações, encobrir outras frequências, mas é o que vende. Enquanto isso não costuma acontecer no AKG, em muitos casos gostaria de uma resposta mais linear. Além disso, ele também não é um exemplo de extensão. Tenho certeza de que, para o ouvinte regular, os graves vão ser excelentes. Mais, para aqueles que primam por uma resposta acima da média, pode não ser o ideal.

Os agudos são um tanto curiosos. Primeiramente, como disse antes, aquele buraco gera um equilíbrio tonal estranho, que destaca os agudos mas parece recuar os médios em estilos mais frenéticos. Nesses casos, o equilíbrio tonal é muito estranho.

Em outros, à primeira vista parecem decentes, com definição razoável e considerável falta de granulação. Mas ao se prestar mais atenção, percebe-se que a extensão é crítica e parece que, a partir de um certo momento, eles simplesmente são cortados subitamente. A sensação é estranha, e em jazz, por exemplo, onde os pratos da bateria podem ser de suma importância, ele pode ser decepcionante. É algo que não me incomoda particularmente numa audição descompromissada, mas com mais atenção, fico no forte desejo de uma maior extensão, porque é como se os pratos não tivessem aquele brilho característico.

A transparência e o detalhamento, como resultado dessa característica, não são dos melhores. Mas, no final das contas, isso não é necessariamente um defeito visto que parece fazer parte da sonoridade lenta e melódica do K370.

 

CONCLUSÕES

O AKG K370 é um fone que me confundiu muito. De modo geral, não acho que seja um bom all-rounder porque em muitas situações, o vale nos médio-agudos é uma característica que me incomoda bastante, já que afeta fortemente o equilíbrio tonal.

Em compensação, nos estilos certos, esse IEM realmente sabe brilhar. É difícil de explicar, mas sua sonoridade pode ser magicamente doce e agradável, com uma delicadeza que não é fácil de encontrar.

Pelo preço, existem diversas opções que se encaixam melhor numa maior gama de gêneros musicais, o que faria mais sentido para boa parte dos consumidores, e então fica difícil
recomendar esse AKG.

Mas, nos casos específicos para os quais o K370 foi feito, é difícil fazer melhor pelo preço.

 

Ficha Técnica:

AKG K370 – US$ 170,00/R$ 580,00

  • Driver dinâmico único
  • Sensibilidade (1mW): 120 dB SPL/mW
  • Impedância: 32
  • Resposta de Frequências: 12Hz – 24kHz

Equipamentos Associados: iPod Classic, iMac, Cambridge Audio DacMagic, Cambridge Audio 340A SE, Little Dot MKIII.

0 Comments
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  1. Eric

    18/02/2011 at 22:10

    Boa, Leo!
    Bem insenta a sua review.
    Pelo preço esperava mais do K370…
    Abraços, Cara!

    1. mindtheheadphone

      19/02/2011 at 13:28

      Grande Érico!
      Olha, não vou te falar que é um fone ruim, não é isso, mas é porque acho que esse buraco afeta muito o equilíbrio tonal, e isso faz com que ele não seja bom pra muitos estilos. Ele se sai bem em outros que não mostram bem essa característica, mas mesmo aí, ele seria melhor ainda se a porcaria do buraco não estivesse lá! E, como eu disse, ele tem sim uma grande qualidade, mas é uma pena que em muitas situações ela acabe mascarada…
      Abração!

  2. Eric

    18/02/2011 at 22:19

    Boa, Leo!
    Bem isenta a sua review.
    Pelo preço esperava mais do K370…
    Abraços, Cara!

  3. Rafael

    19/02/2011 at 02:39

    Hahaha, estou honrado pela menção. Volta e meio eu juro que me pego lembrando daquela vez que escrevi isso. aeuhseauaheusehuesah

    Acho que imagino muito bem como deve ser esse fone, e estou de acordo bem grande com muita coisa que você disse à respeito desse tipo de assinatura sonora. O equilíbrio tonal realmente deixa muito a desejar pra ouvir principalmente rock e seus derivados, se saindo muito bem em músicas mais calmas e ao vivo. Músicas com som de cordas ficam magníficas também. Acho que quem se sai melhor aqui (dentro do que eu ouço) é o Seal.

    PS: Fugindo do assunto, acho que você me deixou confuso querendo reconsiderar a idéia de pegar um IEM melhor e deixar um Full size pra depois. Peguei o Porta Pro que eu tinha aqui em casa e agora que e tenho o ouvido mais treinado cheguei à (in?)feliz conclusão que ele me agrada mais que meu Sony EX500. Agora vou ver se pego o Triple Fi e vejo se o caso não é a assinatura mesmo que me incomoda do EX500 ou se realmente nada se compara a um full size, haha. Depois vai lá no tópico sobre fones e procura umas páginas atrás a minha redescoberta do porta pro. hehe

    1. mindtheheadphone

      19/02/2011 at 13:32

      Hahahahaha cara, foi o melhor jeito de descrever que já ouvi, e como não fui eu que cunhei o termo, o mínimo que eu tinha que fazer é citar o autor!

      É exatamente isso, esse buraco atrapalha músicas com muita atividade, e como eu disse na resposta pro Érico, mesmo nas que têm menos interferência disso, ele seria ainda melhor sem essa característica. Aliás, ele é relativamente parecido com o EX90LP, perde em algumas coisas mas, nos médios, não tem comparação!

      E cara, isso dos IEMs contra full-sizes é complicado, já te disse que full-size, pra quem quer qualidade pura, é o fim da história. Mas, ao mesmo tempo, vc tem que saber se valeria a pena pegar um ótimo full-size pra usar em casa e ficar insatisfeito fora de casa, ao invés de pegar um bom IEM, que não seria tão bom quanto o full, mas te deixaria relativamente satisfeito nas duas situações.

      Abração!

  4. phcassa

    19/02/2011 at 17:14

    Você tá ficando profissional nos reviews. Tá stereophile.

    Parabéns obrigado por ter compartilhado sua experiência.

    1. mindtheheadphone

      20/02/2011 at 17:07

      Mutíssimo obrigado pelo elogio, Pablo!!

  5. Ariel

    21/02/2011 at 09:12

    Parabens pelo review e pelo trabalho !

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