
Esse texto provavelmente vai causar revolta em muita gente. Quero deixar claro que a minha intenção ao escrever isso não é necessariamente fazer com que as pessoas parem imediatamente de acreditar no fenômeno, até porque eu não exatamente desacredito, é simplesmente trazer questões que parecem ser ignoradas pelos crentes. Poucos assuntos geram tanto debate no mundo da audiofilia, e meu objetivo não é necessariamente criar um novo. Mas ficaria muito feliz se soubesse que aqueles que leram o que vou escrever agora vão parar pra pensar antes de dizer que seus fones melhoraram após vinte horas de ruído rosa.
Acho que muitos, antes mesmo de lerem o texto, vão dizer: ouça! Mas aí é que está o problema. Será que, nesse aspecto, podemos mesmo confiar no que estamos ouvindo? Admito que posso sim ouvir a diferença. Mas, da mesma forma, eu vejo essa imagem se mexer e essas linhas serem completamente tortas. O que, como sabemos, não é verdade.
Sendo curto e grosso, o burn-in é o amaciamento de algum equipamento. A teoria por trás do fenômeno é que equipamentos, ao sair da linha de produção, não se encontram em perfeito estado de funcionamento – estado este que só será atingido após certo tempo de uso. Acho que o fenômeno começou a ser descrito em caixas de som, e aí, depois de um tempo, passou a afetar amplificadores, CD players e até cabos.
Milhares de audiófilos juram de pés juntos que encontram diferenças perfeitamente audíveis e evidentes após algum tempo de uso em aparelhos de som. Diariamente leio relatos como “os graves só se soltam após 100 horas”, “no início ele era duro, mas depois de 50 horas tocando música se soltou”. Pode ser que eles estejam certos? Claro que pode. Mas também pode ser que aquele maluco da esquina que disse que viu um unicórnio alado também esteja certo. Sei que é um exemplo grosseiro, e com isso não quero dizer que os dois relatos são “loucuras” de uma mesma categoria – meu intuito é mostrar que são percepções praticamente sem nenhuma evidência mas que, ao mesmo tempo, não têm como ser refutadas. Aliás, de acordo com a ciência, até onde sei, o burn-in não existe. Um fone já sai da linha de montagem com toda a elasticidade que ele terá. Um amplificador já começa tocando (exceto pelo tempo de aquecimento para o funcionamento ideal, mas isso é diferente e muito real) tanto quanto tocará no ápice de suas habilidades. Tudo bem; concordo que a ciência não explica tudo e muitas vezes erra. Mas é para se pensar.
Existem exceções: válvulas por exemplo, por trabalharem com temperaturas altas, talvez estejam mais sujeitas a algum tipo de estabilização. Mas a borracha que circunda um diafragma ou o papelão que o compõe, em teoria, já saem da linha de montagem exatamente como deveriam. Nesse texto, estou falando exclusivamente do amaciamento mais esotérico, como o de caixas, fones, cabos, CD players, amplificadores, etc.
O que me incomoda nessa história toda é que o fenômeno do burn-in foi amplamente vulgarizado e, aparentemente, tornou-se uma verdade universal para muitos entusiastas do áudio. Muitas pessoas, tanto iniciantes como experientes, leram a respeito de experiências de outros audiófilos com o fenômeno e, quando acharam que se depararam com ele, contaram para outros, que imaginaram que viram, e por aí vai.
O grande problema é que o burn-in é apenas uma das hipóteses para explicar uma mudança que nem sequer está comprovadamente ali.
Basicamente, 99% dos relatos (se não todos) que já li sobre o amaciamento de aparelhos é decorrente, invariavelmente, da experiência de algum usuário com esse aparelho. Esse usuário compra o equipamento, ouve, forma opiniões e, depois de um tempo (seja usando normalmente, seja deixando tocando ruído rosa), tem percepções diferentes. Explicam essa percepção com o burn-in. Ou seja, temos aqui uma hipótese: “o som do aparelho mudou”.
Antes de entrar no burn-in, temos de analisar essa hipótese. Primeiro de tudo, existe o fato de nós humanos sermos praticamente desprovidos de memória auditiva. Ela existe, mas é extremamente deficiente e está sujeita às mais diversas peças que nosso cérebro pode pregar. É realmente difícil formar uma memória perfeita de alguma experiência auditiva. Claro que temos uma boa ideia a respeito dela, mas detalhes são mais obscuros.
Outra questão é a de que nossa percepção acerca de alguma sonoridade muda constantemente. Quem nunca usou um fone por muito tempo, fez um upgrade e, quando voltou ao antigo, teve uma percepção completamente diferente? Nossos ouvidos se acostumam. É mais do que natural. Quando usava um Shure SE530 por exemplo, adorava os seus agudos. Quanto ouvi o Sennheiser IE8 pela primeira vez, o achei frio porque tinha muito mais agudos. Ao me acostumar com ele e voltar para o SE530, vi que ele na verdade praticamente não tinha agudos e era extremamente sombrio. Arrisco dizer que a grande maioria dos leitores vai se identificar com isso.
Agora, assimilando ao burn-in: o IE8 tem infinitamente mais graves que o SE530. Eu era acostumado ao Shure e gostava de sua presença nos graves. Quando ouvi o Sennheiser pela primeira vez, achei que a quantidade de graves era descomunal e desnecessária. Com o tempo, achei que eles ficaram mais equilibrados. Será que ele amaciou? Ou será que eu me acostumei com a sua quantidade de graves?
Essas duas possibilidades são alternativas ao burn-in, e de um ponto de vista científico, são questões comprovadas e conhecidas a respeito de nós. Essa queima, em contrapartida, parece uma explicação um pouco mais controversa.
O único método para comprovar essa hipótese seria comparar diretamente um aparelho novo a um usado, ou então fazer medições em algum equipamento ao longo do teórico amaciamento. No entanto, acho que nunca vi um audiófilo que acredita no burn-in fazer isso. Geralmente ele simplesmente ouve, acha que mudou – o que, como expliquei acima, possivelmente não é o caso –, e pronto, foi o danado burn-in. Esse método não é nem um pouco confiável. Nós humanos somos incrivelmente suscetíveis a ilusões; vide as famosíssimas ilusões de ótica. Podem ter certeza, as pessoas mais fáceis de serem enganadas não são os outros, somos nós mesmos. Além disso, vamos supor que o audiófilo consiga sim comparar um produto novo a um usado e veja diferenças. Ainda nesse caso, o burn-in vai ser só uma de diversas possíveis explicações (vou desenvolver mais adiante).
Com que propriedade alguém pode afirmar que um fone X só atinge seu verdadeiro potencial a partir de 300 horas? Será que a memória do usuário da performance do aparelho assim que saiu da caixa é apurada, quanto mais a níveis de detalhes? Duvido, quanto mais com essa precisão temporal – é uma mudança brusca, ou seja, a 290 horas a performance era pior? E será que não foi a percepção do usuário que mudou? E mais, não se esqueçam de que estamos falando de detalhes, o que envolve uma maior possibilidade de erro.
Enfim, supondo que testes sejam feitos. Conheço poucos. Bem, na verdade, só conheço três, e as conclusões são interessantes. Aqui vão:
http://www.innerfidelity.com/content/evidence-headphone-break
http://www.headfonia.com/test-burn-in-and-production-variations/
Basicamente, em alguns aspectos os artigos acham diferenças, e em outros não. Ou seja, eles tentam testar a hipótese levantada anteriormente (“o som do aparelho mudou”). Como dito anteriormente, a percepção de alguém comparando o que ouve com o que está na memória não é suficiente, e abre a possibilidade de a hipótese ser falsa. O que as pesquisas acima tentam fazer é justamente testar a afirmação. Porém, mesmo que o resultado seja positivo, o burn-in ainda não é nada além de uma de inúmeras possíveis explicações.
Os dois primeiros usam medições, e portanto, cientificamente, são mais válidos. O primeiro artigo conclui que o burn-in existe, mas dura segundos e, após certo tempo, o diafragma volta ao seu estado inicial e, quando estimulado novamente, volta a sofrer o amaciamento. O segundo conclui que existem diferenças, mas que grande parte delas podem ser atribuídas a problemas nas medições, decorrentes, por exemplo, do posicionamento do fone na dummy head. Já no terceiro, um avaliador compara dois fones e vê diferenças, mas ao mesmo tempo diz que muitos não as vêem.
Algumas considerações, contra e também “a favor” do burn-in – afinal, o objetivo desse texto é fazer as pessoas pensarem. No primeiro artigo, somente woofers foram testados, e é possível que eles sofram o efeito de forma diferente de fones. Então, eles podem não ser suscetíveis ao burn-in, enquanto fones podem. No segundo, como dito, as mudanças são pequenas e podem ser decorrentes de alterações no sistema de medição. Já no terceiro, as diferenças, que de acordo com o autor são realmente ínfimas, podem ser provenientes de alterações em lotes diferentes do fone. Ou seja, como vocês podem ver, a questão é complicada.
CONCLUSÕES
Pessoalmente, tive a oportunidade de comparar um produto saindo da caixa com um usado três vezes. A primeira, foi comparando um par de Dali Concept 2 saindo da caixa com um par que já tinha sido exposto a mais de 200 horas de música. A segunda foi quando troquei meu SE530 dentro da garantia por um novo. Fui ouvindo o antigo, com uma rachadura no cabo, por duas horas no ônibus. Voltei ouvindo o novo. A última foi quando tive a oportunidade de comparar um par NOS (new old stock) do AKG K1000 com um que havia sido efetivamente usado durante seus vinte anos de vida. Nas três situações, não ouvi diferença alguma.
Como eu disse no início, meu objetivo não é fazer com que as pessoas subitamente abandonem a crença no burn-in. É mostrar que esse fenômeno não é nada além de uma das explicações mais improváveis de uma mudança que, em primeiro lugar, não é comprovada.
Ou seja, a percepção de que o som mudou tem grandes possibilidades de não ser correta. E, mesmo que seja correta, o burn-in não passa de uma dentro de diversas explicações (como diferenças de lotes, exposição a diferentes condições, posição na cabeça, etc.). E, por isso, não merece ser usada vulgarmente como é, e muito menos considerada uma verdade absoluta, como vejo frequentemente acontecendo.
Pensando bem, essa percepção talvez não seja tão diferente do maluco da esquina. Assim como no burn-in, existem inúmeras explicações possíveis para ele ter visto o unicórnio alado. Ele estar efetivamente lá talvez seja a mais improvável delas.
22 Comments
melro
10/06/2011 at 07:45Realmente é uma “verdade absoluta” bastante polêmica. Em determinadas situações sentimos diferença nas audições com o mesmo equipamento, em outras não. Será que foi o “burn-in” ou a capacidade de adaptação do ser humano? Interessante como nós temos uma capacidade adaptativa a qualquer situação. Recentemente adquiri um IEM Philips (9000/10) e quando fui experimentá-los só ouvi graves, com os médios e os agudos praticamente submersos. Depois de um burn-in de umas 20 horas, os médios avançaram e os agudos se fizeram presentes. Daí me veio a questão: o responsável por essa mudança foi o burn-in ou me adaptei à assinatura sonora do fone? A razão sempre me tenta a acreditar na segunda opção.
Um caso interessante acontece comigo: usando um mesmo equipamento, pela manhã ele toca de uma maneira e à noite de outra, bem melhor, ou seja, no fim do dia os ouvidos já foram “amaciados”. Será o início de uma nova teoria, o bioburn-in?
mindtheheadphone
10/06/2011 at 10:58Melro, aí é que está… o “bioburn-in”, ou seja, se acostumar a diferentes sonoridades ou ter diferentes percepções em situações diversas é um fenômeno bem entendido e explicado pela ciência. O burn-in, no entanto, é uma alternativa a essa explicação (dificilmente as duas coexistem) e, ao contrário dela, é refutado pela ciência!! Então por que acreditar nele e atribuir a ele essas mudanças??
É como o maluco: ele disse que viu um unicórnio. Pode ser que ele tenha tido uma ilusão, seja esquizofrênico, o que seria perfeitamente plausível e uma situação bem documentada pela psicologia. O unicórnio ter passado na frente dele é uma explicação alternativa, que desafia a ciência, que ainda não descobriu esse ser. Qualquer pessoa acreditaria na primeira opção. Por que com o burn-in tem que ser diferente?? Acho que as pessoas confiam demais nos próprios sentidos, e não aceitam – ou não consideram – que os mais fáceis de enganar somos nós mesmos. Usam e abusam de uma expressão que desafia a ciência simplesmente por não aceitar que possam estar errados – o que é um erro tremendo, ainda mais numa situação de percepção frágil como essa – ou não refletiram a respeito. Não faz sentido!
Rodrigoqui
10/06/2011 at 08:46Eu acredito que a adaptação ao equipamento e a sua assinatura sonora seja a peça chave nesse caso. Dois exemplos distintos que estou acostumado me ajudam a refletir melhor sobre o assunto.
O primeiro ainda na área seria a música. Quem nunca ganhou ou comprou um CD e de cara não gostou, seja pelo estilo ou por outra causa qualquer, mas com o tempo foi se apaixonando? Seria um Burn-in do CD? Claro que não, apenas fomos nos acostumando com a sua sonoridade e estilo, passando a apreciar, a ponto de mudarmos completamente de opinião.
O segundo está relacionado a outro assunto que gosto muito, que são os perfumes. Quando ganhamos ou compramos um novo o sentimos de um jeito, mas com o decorrer do tempo, depois de usa-lo por meses consecutivamente, a percepção sobre os detalhes do mesmo mudam completamente. Mas isso é logico, o perfume sofreu Burn-In! rs Falando sério, o que aconteceu novamente foi nos acostumarmos com sua assitnatura.
Já havia escrito na comunidade e volto a escrever aqui já que é uma situação muito pertinete. Como químico posso afirmar que o efeito de uso no polimero utilizado no diafragma, geralmente PET ou Celulose, é infinitamente menor que o efeito da temperatura por exemplo em sua elasticidade, viscosidade e diversos outro aspectos que influenciam em sua sonoridade. Portanto achoque seria MUITO mais fácil notar diferenças na sonoridade de um fone quando comparados um dia quente e um frio, e mesmo assim não conseguimos notar nada, quem dirá com o uso. Os polimeros utilizados no fones são solidos amorfos, com propriedades mais parecidas com a de liquidos que a de sólidos, assim como o vidro (sim o vidro escorre com o tempo a pesar de parecer estranho), e deste modo são super sensíveis a tempreatura, mas estou colocando isso só pra ajudar a ilustrar essa inflêuncia.
Bom, hoje em dia sou cetico com relação ao burn-in, mas já acreditei! O que faltava era um pensamento crítico que rápidamente me apareceu e logo no início já havia começado a pensar no contrário, tanto que só realizei burn-in de forma a melhor o som nos meus dois primeiros fones que veiram na mesma época.
Sabe, como eu passaria a tender a acreditar em burn-in? Caso por exemplo fossem comparando 20 fones, deste modo minimizariamos o efeito do lote! 10 deles ficando sem ser amaciado e outros 10 sendo amaciado com tempos diversos. Se os 10 amaciados soarem significativamente melhor que todos os sem amaciar , aí sim teriamos uma evidência. Daí repetiriamos isso para outros modelos, e aí sim encontrariamos algo. Mas obviamente dúvido que o resultado fosse ser significativo.
Bom vou parar de divagar…
mindtheheadphone
10/06/2011 at 10:59Rodrigo, fantástica a aula!!! Se fosse no HTForum, teria te agradecido com certeza!
E me deu mais argumentos pra fazer as pessoas pensarem a respeito!
Rodrigoqui
10/06/2011 at 11:13Uma citação que acho muito interessante e cabe bem aqui:
“Se acreditamos que fogo esquenta e a água refresca, é somente porque nos causa imensa angústia pensar diferente.” David Hume
Acredito que as pessoas que acreditam piamente em burn-in ficam muito angustiadas em pensar o contrario por isso a dificuldade me aceitar argumentos diferentes. Pois pensar ao contrario seria aceitar que os nossos próprios sentidos no enganam.
Isso complementando aos comentários do Leo e do Melro.
mindtheheadphone
10/06/2011 at 11:23Mais uma excelente observação!!!
Anônimo
12/06/2011 at 07:58Parabéns, Leo!
O que mais gostei foi você por em pauta um problema que vejo se tornar cada vez mais comum em nossa sociedade: a falta de vigilância epistemológica. Hoje em dia, é comum vermos as pessoas se deparem com ideias e opiniões, disseminando-as sem que estas passem por um crivo mínimo de racionalidade. A epistemologia está em baixa; mas sem ela, perdemos muito da nossa independência e liberdade.
Parabéns mais uma vez.
Eric
12/06/2011 at 08:05Parabéns, Leo!
O que mais gostei foi você por em pauta um problema que vejo se tornar cada vez mais comum em nossa sociedade: a falta de vigilância epistemológica. Hoje em dia, é comum vermos as pessoas se deparem com ideias e opiniões, disseminando-as sem que estas passem por um crivo mínimo de racionalidade. A epistemologia está em baixa; mas sem ela, perdemos muito da nossa independência e liberdade.
Parabéns mais uma vez.
mindtheheadphone
13/06/2011 at 23:13Brigadão, Eric!!
Há pouco tempo eu tava conversando sobre isso com um amigo… é realmente triste, mas as pessoas não têm mais o hábito de questionar! A informação simplesmente é aceita, sem maiores considerações, e isso é horrível!! Esse aliás, na minha opinião, é uma dos maiores problemas hoje – não é violência nem corrupção nem degradação do meio ambiente… é isso! Porque, pra mim, se a gente resolver esse problema, o resto fica muito mais fácil!
Abração!
Ricardo Ayres
21/06/2011 at 00:27O que me parece ser uma parte importante dessa crítica é também o fato de que as pessoas que tentam fazer o processo de Burn-In provavelmente obtiveram a informação sobre o tal burn-in de uma fonte que acredita na existência do mesmo. Se alguem faz um experimento desses com a percepção auditiva, que é, como já dito, algo que nosso cérebro não tem praticamente nenhuma memória sobre, e espera ver resultados positivos, é muito provável que essa pessoa ouça resultados que na realidade não existem. Da mesma forma que uma criança assustada vê monstros no escuro quando alguém diz que os monstros estão lá, poderia apostar que grande parte dos Burn-ins relatados não passam de expectativas que nosso cérebro faz questão de satisfazer. O som provavelmente permanece o mesmo, mas o fato de a pessoa acreditar que ele mudaria faz com que ela o perceba de forma diferente.
Sobre acostumar-se com algo: Comprei um CD do Rush, o álbum Power Windows. A princípio não gostei, ouvi o álbum 3 ou 4 vezes num período de 2 anos mais ou menos. Por acaso, meu pai ganhou de presente outro álbum do Rush, o Roll the Bones. Me apaixonei pelo álbum da primeira vez que o ouvi. Fui, depois dessa nova experiência, ouvir novamente o Power Windows, e, adivinha? Hoje o Power Windows é um dos meus álbuns favoritos do Rush. O que eu digo sobre isso é que o Roll the Bones é um álbum mais ‘fácil de digerir’ e o Power Windows é mais complexo. O que ocorreu foi que eu me acostumei com o som do Rush, e, como consequência, minha percepção sobre outras músicas mudou.
mindtheheadphone
01/07/2011 at 14:53Ricardo, te peço desculpas pela demora pra responder!
Exatamente, é o famoso efeito placebo. O problema, acho, é que as pessoas têm dificuldade em aceitar que as suas percepções são extremamente frágeis e não mensuráveis, e aí caem na armadilha de acreditar que são provadas e definidas – o que não é o caso. Até acho que podem existir sim alguns motivos pra acreditar em burn-in, mas, como diria Richard Dawkins, “extraordinary claims need extraordinary evidence”. E é exatamente isso que a gente não tem!
Carlos Paixao
22/07/2011 at 14:33Boa tarde! Em primeiro lugar, eu gostaria de parabeniza-lo pelo ótimo blog.
Sobre o tema, veio em boa hora, pois sou Engenheiro de Materiais e estou fazendo doutorado abordando os Subcorpos de Corpos Ciclotômicos de Condutores, logo, tenho algumas considerações à fazer do ponto de vista da Física disso tudo aí, seguinte:por mais que possa haver estresse dos componentes, principalmente do diafragma, a capacidade eletrocondutora dos materiais envolvidos de um fone hi-end não estão sujeitas à alterações durante o uso do equipamento.
Excessão – um ambiente que poderia afetar essa capacidade, e desta forma, tornar audível uma variação sonora, seria expor tais componentes (ou o fone como um todo) a elevadíssimas ou baixissimas temperaturas (o que não ocorre durante à exposição de ruido rosa). Ou ainda, se exposto à um fenomeno magnético conhecido como Magnetoresistismo, que levaria os condutores a um pico de condutibilidade, entregando uma diferença audível também. Ademais, compartilho a opinião de outros engenheiros e físicos mundo a fora também. A sua abordagem está correta. O burn-in não passa de um fenomeno interpretativo do nosso cerebro. Se fosse um fenomeno físico, concreto, já haveria doutorado à respeito também, acredito eu.
rdelerue
05/08/2011 at 21:18Estou há algum tempo para postar aqui, pois estava procurando um artigo que confirmava a declaração de um funcionário da Sennheiser que recomendava algum tempo de uso para que os fones funcionassem com todo o potencial. Infelizmente não encontrei, mas achei isso aqui: http://headphonebreakin.blogspot.com/ Neste link o autor tenta ser imparcial e colocar os dois lados da coisa, mas há algumas citações especialmente interessantes, como essas:
‘Ultrasone claims on on their website that their headphones require break-in, quoting between 4-16 hours’
‘Grado has repeatedly supported the idea of break-in’
‘AKG U.S. support advises that their K701 headphones should get 300 hours of break-in’
‘[Sennheiser] admit[s] that several hours of break-in loosens the drivers and make the sound more fluid’
Alguém confirma esses dados?
Bem, sei que a seguir vou expor casos anedóticos, mas vale a minha palavra, afinal é tudo o que tenho a oferecer aqui, não é verdade? 🙂 Admito que podem haver outras explicações, mas o fato é que depois de quase 2 anos usando um Koss PortaPro eu decidi comprar um outro para dar de presente para uma pessoa próxima, e quando abrimos não resisti em comparar com o meu. Nessa época eu não entendi quase nada de áudio, e sequer tinha ouvido falar em burn-in / break-in. Mas a diferença foi bem evidente, e a pessoa que estava comigo (leiga) concordou. Admito, porém, que eu não soube dizer qual soava melhor. Alguns anos depois um amigo comprou outro PortaPro, e, mais uma vez, comparei com o meu. Dessa vez, não só notei diferença, como achei que os graves do novo soavam muito mais quadrados que o meu antigo. De uma maneira geral, o fone novo soava desbalanceado. Meu amigo (leigo) chegou a concordar. Alguns meses depois um outro amigo comprou também um PortaPro (a Koss devia me dar uma participação, hahaha), e o resultado foi o mesmo do último caso. Claro que, como mencionado no excelente texto do ‘mindtheheadphone’, pode haver diferenças no processo de fabricação. Preciso me encontrar com um destes amigos e comparar novamente os fones para ver se há alguma diferença. Talvez isso confirme alguma coisa, não é verdade?
Saudações!
mindtheheadphone
08/08/2011 at 20:34rdelerue, primeiro de tudo, muito obrigado pela participação valiosa!
Sobre as marcas, é aquela coisa, ao mesmo tempo que algumas confirmam, outras negam. E o que me surpreende é que as que confirmam nunca mostraram nenhum tipo de evidência ou alguma explicação para isso. Mas, sem dúvida nenhuma, é interessante ver que algumas marcas são a favor do burn-in. Mas ainda me parece que, por causa da falta de explicações e de dados concretos, que elas o recomendam puramente no “achismo”, ou por não querer contradizer a opinião de milhares de audiófilos ao redor do mundo. Posso estar errado, mas é uma questão que eu levanto.
E sobre a sua experiência com os Porta Pros, pode ter certeza, ela é extremamente válida! Foi muito interessante ler esse depoimento. Como vc mesmo disse, não prova nada porque pode perfeitamente ser uma variação entre lotes, mas de fato, não deixa de ser uma evidência perfeitamente válida a favor do burn-in!
Aliás, me recomendaram um teste que achei muito interessante: tocar o pink noise em apenas um dos lados de um fone! Depois de 300 horas, toco uma música mono e vejo se encontro diferença entre os lados. Já estou com um Sennheiser CX-300II pra isso, em breve vou começar o teste e assim que tiver o resultado posto aqui!
Um abraço!
Thiago Xavier do Nascimento
10/07/2012 at 14:12I Aew Leonard, acabei de ler o post e gostei muito, vc tem o jeito para escrever.. Muito detalhista e transparente…
Eu tenho o Cks77 da áudio téchnica e gostaria de saber se vc realizou o teste com o CX-300II e como oi o resultado do Teste!
Pois tenho o fone cks77 os médios não são muito bons.. Deu a impressão que o fone do celular é melhor nos médios do o Cks77!!! Queria fazer burn – in e não se vai ajudar meus fones da áudio téchnica.
mindtheheadphone
10/07/2012 at 17:13Thiago, fiz sim o teste, mas pela metade. Encontrei sim diferenças claras entre os dois lados, mas a conclusão não é simples. Ainda mantenho o que disse no post porque a diferença que ouvi, apesar de clara e audível, é mínima, e nunca seria ouvida por mim após 50 horas, que dirá 300.
Só ouvi a diferença porque estava ouvindo os dois lados ao mesmo tempo, e tenho certeza absoluta de que se eu ouvisse cada lado com 2 minutos de diferença entre as audições, não conseguiria distinguir um lado do outro. Portanto, ainda tenho certeza absoluta de que 99,99% do que ouvimos por aí sobre o efeito é simplesmente o costume, como disse no post.
Ainda assim, existe outra questão, e por isso digo que fiz o teste pela metade: pretendia fazer o burn-in no outro lado por apenas 1 ou 2 horas, pra ver se eles soariam iguais. Caso isso acontecesse, reforçaria a minha tese de que o efeito é mínimo e o que lemos sobre as percepções das pessoas acerca do efeito é puramente psicológico.
Sobre vc fazer ou não burn-in, numa boa, não vai fazer a menor diferença. Mesmo que melhore um pouco o fone, vai ser uma diferença ridícula, e não é isso que vai fazer vc gostar dele. Vc se acostumar à sonoridade dele talvez faça isso, então cara, não se preocupa com burn-in, vai ouvindo teu fone normalmente sem se preocupar com isso. Talvez vc se acostume a ele, talvez não! A participação do burn-in nessa história, se existir, vai ser totalmente desprezível.
Leonardo Bussinger
21/08/2012 at 15:20Parabéns pela facilidade em passar seu conhecimento Léo! Estou com meu ATH-M50 há dois dias e devo dizer que compartilho com você a situação na qual você achava que um fone possuia agudos bem vivos, e quando foi ouvir outro achou os agudos exagerados. Comigo, foi com os graves.
Meu humilde fone Apple possuía graves que me satisfaziam e quando comprei meu sennheiser CX-55 achei que ele tinha graves exagerados. Com o tempo, fui me acostumando e ao ouvir o fone da apple, o achei sem grave algum. Agora, quando comprei o Audio Technica (apesar de este ser over ear e ser bem mais caro que o Sennheiser) senti que este tinha graves bem notáveis e muito vivos em comparação ao Sennheiser. Hoje, nao consigo ouvir o Sennheiser, pois seu graves são imperceptíveis. Nao foi Burn-in, tampouco amaciamento. Simplesmente, uma peça pregada pelo o que jamais deveria fazer isso, meu cérebro.
Novamente, o parabenizo pelo blog e pela inciativa.
mindtheheadphone
23/08/2012 at 12:22Obrigado, xará!
Fiz um experimento que me deixou surpreso (aliás, ainda preciso terminá-lo pra postar no blog), porque ouvi diferenças entre dois lados de um fone – um queimado e o outro não –, mas isso só aconteceu porque eu estava ouvindo os dois ao mesmo tempo. Nunca conseguiria ouví-las com algum tempo entre as audições.
De qualquer forma, ainda mantenho praticamente tudo o que escrevi no texto. Tenho certeza de que 99,99% do que lemos por aí sobre o efeito é como o seu caso: nosso cérebro nos pregando uma peça!
Um abraço!
Hugo
24/05/2013 at 13:15Ótimo texto, sou leigo no assunto mas consegui entender claramente o efeito “burn-in” e seu ponto de vista. Parabéns!
mindtheheadphone
24/05/2013 at 16:43Muito obrigado, Hugo! Só não se esqueça de ler a parte 2, se já não tiver o feito.
Gledson Junior
23/03/2015 at 15:49Talvez o burn-in se aplique a subwoofers com grandes dimensões, já vi um video no qual o dono de um subwoofer colocou ele pra amaciar tocando em uma freqüência de 60hz de um dia para o outro, e o curso do cone estava claramente maior no final do experimento do que no inicio, talvez à fones isso não se aplique pois o curso descrevido pelos diafragmas são uma parte infinitesimal quando comparados à um subfoofer de 12″ por exemplo.
Mind The Headphone
24/03/2015 at 23:14Interessante, Gledson. De fato, acho que numa situação como essa o efeito me parece muito mais plausível.