
INTRODUÇÃO
A história dos monitores intra-auriculares customizados começou com Jerry Harvey. Quando trabalhava como engenheiro de som de Van Halen, em 1995, teve a ideia de criar um fone customizado, que bloqueasse os sons externos e permitisse condições de monitoração tanto mais fiéis quanto mais seguras para a audição. Seu fone customizado com duas armaduras balanceadas foi revolucionário – e não demorou para que a ideia se difundisse e, em pouco tempo, Jerry criava a Ultimate Ears e fornecia fones para grandes nomes da indústria da música.
Em 2005 a empresa entrava no mercado dos intra-auriculares universais, com a linha Super.fi, e não demorou para que se consolidasse no mercado consumidor comum. Dois anos depois, foi comprada pela Logitech.
Após a aquisição, apesar de continuar com força no mercado profissional – incluindo lançamentos como o Reference Monitor e o Personal Reference Monitor – como a Ultimate Ears, também colocou os dois pés em linhas para o público comum com a marca Logitech UE. Hoje, ela fabrica não só intra-auriculares como também full-sizes, caixas de som sem fio e smart radios. Claramente, a marca pegou carona no sucesso da Monster com os Beats by Dr. Dre para entrar nesse mercado. A diferença é que ela quer fazer isso com produtos que trazem qualidade de som real.
Tenho aqui, para avaliação, graças ao Rafael Lopes, o Ultimate Ears UE6000, um full-size dessa nova linha. Trata-se de um supra-aural com cancelamento ativo de ruídos, estando abaixo apenas do UE9000, totalmente wireless.
ASPECTOS FÍSICOS
Esteticamente, fica claro o apelo do UE6000 para o mercado de massa. Houve, certamente, um esforço significativo em design. O fone possui linhas modernas e esbeltas mas sem exageros – exceto, talvez, pelo cabo azul. É feito principalmente em plástico, com alguns pequenos detalhes em metal, como a parte interna do headband. Externamente, ele possui uma pintura fosca e é acolchoado na parte de contato com a cabeça, com um pequeno revestimento em courino – material que também compõe os amplos pads. A montagem e o estilo são muito parecidos com os do Monster Beats by Dr. Dre Solo HD.
Considero o UE6000 um fone excepcionalmente confortável. Não é pesado, e a pressão lateral é leve. Como se trata de um circunaural, não há a necessidade de a pressão lateral ser mais forte para um melhor isolamento. Ele já é atingido a partir do momento em que os pads se posicionam ao redor das orelhas, e é bom mas não tão eficaz quanto o de um IEM como os Shure ou Westone. O cancelamento ativo é restrito, e só funciona com frequências mais baixas. É extremamente eficaz com elas – apesar de não ter tido a oportunidade de testar, pelo que vi em outras situações, acredito que num avião os ruídos graves sejam reduzidos a praticamente zero –, mas para por aí.
O cabo é de boa qualidade, e é revestido com um material emborrachado. A conexão ao fone, assim como em alguns dos fones recentemente avaliados, é feita por meio de um conector P2. Ele possui botões de volume e de atender chamadas/play/pause para iDevices.
Os acessórios fornecidos são uma bolsa de neoprene, que comporta os fones quando dobrados para dentro, e um splitter em Y para compartilhar a música com dois fones simultaneamente. Gosto da bolsa, mas a proteção contra choques é nula. Me parece muito mais para guardar o fone e protegê-lo de arranhões do que para qualquer outra coisa mais pretensiosa.
O SOM
O UE6000 é um fone interessante porque possui duas sonoridades distintas: uma sem o cancelamento ativo de ruídos, e outra com. Numa primeira audição, achei que sem o cancelamento o som era sem graça, tornando-se muito mais excitante com o circuito ativado. Mas isso rapidamente mudou.
O circuito ativo permite que sejam feitos ajustes digitais na sonoridade do fone, e como estamos falando de um que tem claro foco no mercado de massa, a fidelidade é sacrificada em prol da energia. O resultado é consideravelmente melhor com o circuito desativado, modo no qual o fone opera de forma puramente passiva. Nesse modo, ouço uma apresentação muito natural, quente, relaxada e balanceada.
Assim, os graves são muito presentes, mas não me passam a impressão de serem exagerados. O que acontece é que não parece haver um bump significativo nos médio-graves. A região é linearmente incrementada – me lembra o M-80, mas com ainda mais competência, já que a relação entre os graves e os médio-graves é mais linear. Há menos punch, mas há mais definição. São muito menos agressivos. É uma relação parecida com a do LCD2, mas a região tem um volume muito menor. Em algumas situações até gostaria de um pouco menos atividade nessa região, que acaba trazendo um leve congestionamento, mas não é com frequência. Ouço belos graves do UE6000, com excelente extensão, bom impacto, e textura até supreendente para um fone desse tipo.
É claro, porém, que não são perfeitos. Ele não possui os níveis de definição de fones mais sofisticados, e em algumas situações os graves são um pouco lentos embolados. Mas, se tratando de um fone nessa faixa de preço e com seu público alvo, é uma falha mais do que justificada.
Os médios são excelentes. Não ouço resquícios de características anasaladas aqui, e se tratando de um fone fechado nessa faixa de preço, isso é ótimo. Também me surpreende o quão aberto e relaxado o UE6000 é. Os defeitos de fones fechados sobre os quais falei na avaliação do V-Moda M-80 não parecem existir aqui… é claro que não é o desempenho de um AKG K701, mas sinceramente, é uma sonoridade que me parece mais aberta do que a de alguns Grados, por exemplo – com a vantagem de ser um fone fechado.
Esse fone é puxado para o lado quente, e os médios têm uma excelente apresentação. São calorosos, e renderizam vozes, pianos e guitarras com muita competência. Em algumas situações o incremento nos graves acaba alterando um pouco a sensação de “secura” proporcionada por um fone de referência, mas é um preço a se pagar por um som mais agradável e analógico num fone desse tipo – me lembra um pouco o B&W P5.
O detalhamento é bom, assim como o palco sonoro, mas o UE6000 não faz milagres – afinal, não podemos nos esquecer que estamos falando de um fone de 200 dólares. E, no mundo do áudio de alta fidelidade, isso é muito pouco. Após um tempo ouvindo o M-80 para avaliá-lo, o fone da Logitech parece ar fresco. Por mais que o V-Moda tenha seus méritos pela sonoridade mais agressiva, o relaxamento proporcionado pelo UE6000 é ótimo. Além do equilíbrio tonal mais calmo, há mais ar e espaço entre os instrumentos. É uma apresentação muito mais espacial e relaxada, que faz com que ele não seja menos competente em estilos como rock, música eletrônica, pop ou hip-hop, ao mesmo tempo em que traz excelentes resultados com jazz e gêneros acústicos.
Veja que não é uma sensação de abertura total como em fones abertos, que parecem ter mais respiro – ainda há algo “preso”. Mas, ao mesmo tempo, parece como o melhor que pode ser feito quando se tem essa limitação.
Os agudos do UE6000 são muito curiosos. Não há como negar que são recuados – o HP1000 e o HE500, fones que considero escuros, têm mais atividade nessa região –, mas há um leve pico que me parece estar colocado numa região específica dos pratos, onde fica um certo ataque. E o resultado é uma integração interessantíssima entre os médios e os agudos.
Há uma sensação de crispness proporcionada por esse fone que me atrai muito. Os agudos se tornam um ótimo complemento aos médios. No entanto, gostaria sim, em alguns momentos de mais brilho. Essa região, apesar de apresentar bons níveis de definição e bom timbre, é sim recuada. Como disse na avaliação do V-Moda M-80, porém, há um motivo para isso: esse fone é feito para trazer bons resultados em ambientes barulhentos, o que significa que frequentemente será usado em altos volumes. Agudos mais calmos são uma vantagem, visto que altos volumes poderão ser melhor tolerados.
O problema é que esses muitos elogios sofrem um pouco com o circuito de cancelamento ativo de ruídos. Ele é alimentado por duas pilhas AAA comuns, e ativado por meio de um botão na parte de cima do fone direito. Nesse modo, além de um incremento considerável nos graves – que ganham muito impacto –, temos um incremento nos médio-agudos. O que acontece é que a sonoridade fica muito mais “forte”, ganhando apelo para os não audiófilos que querem algo mais excitante.
Isso poderia ser bem vindo se tivesse sido executado numa menor proporção. Por exemplo, ouvindo a Flow, do duo Disclosure no modo passivo, acho que uma atividade um pouco maior nos subgraves faria bem. E o modo ativo traz justamente isso, mas num nível muito exagerado. Acho que em algumas raras situações o resultado pode se tornar interessante, mas para nós, audiófilos, em boa parte dos casos o melhor vai ser deixar o cancelamento desligado. Gosto da ideia de um fone com duas sonoridades, uma mais relaxada e outra mais excitante – quem não gostaria? –, e o UE6000 até traz isso, mas a versão divertida foi muito longe.
CONCLUSÕES
Posso dizer que estou muito feliz com o Logitech UE6000 por dois motivos distintos.
Primeiro, pela sonoridade geral do fone. Não é que seja um fone high-end, mas de alguma forma há enorme coerência e coesão no que ouço aqui. Os graves poderiam ser um pouco mais secos e definidos e os agudos ligeiramente mais presentes, mas o que ouço desse fone é muito certo e suas colorações fazem sentido dentro do todo. Não é como o V-Moda M-80 (um fone na mesma faixa de preço e com a mesma proposta), que possui colorações fortes e evidentes, mas que se justificam pela proposta, e pode ser aproveitado quando deixamos nosso lado audiófilo de lado.
Com o UE6000, temos um desempenho 100% aproveitável com o modo audiófilo ligado no máximo. Trata-se de um fone muito competente, capaz de tocar qualquer estilo, que traz uma sonoridade que soa simplesmente lógica e coerente, não só em si mesma, entre de suas particularidades, mas também com o contexto para o qual o fone foi projetado.
O outro motivo para eu gostar muito do Logitech é o fato de ele apresentar para o mercado de massa o que uma excelente sonoridade pode ser, num belo pacote. A marca tem pedigree e usou tradição, expertise e know-how para trazer um produto bem precificado que tem apelo para o consumidor comum. Ele mostra, mesmo com suas pequenas colorações, o que é um bom som. Mostra que é possível conseguir uma personalidade divertida o suficiente para agradar ao seu average Joe e natural o suficiente para agradar Joseph Audiophile.
Ouviu, Dr. Dre?
Logitech UE6000 – US$200,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 50 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 97 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 20Hz – 20kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X
11 Comments
Joas
31/05/2013 at 22:33Mais um bom review. Realmente o noise cancelling é meio inútil e só aconselharia para uso extremo mesmo. Na verdade comprei ele devido a uma viagem de 24 horas de avião haha. No entanto discordo e acho que jazz não é a praia dele, em contrapartida, cai como uma luva em música eletrônica.
Thiago Xavier
01/06/2013 at 14:33Pelo preço que se paga e qualidade de som que se entregar por 200 dolares, até que vale a pena, tendo em vista os “Dr. Dre”, pelo menos não faz usuarios menos esperiente perderem dinheiro com produtos de má qualidade e ainda por cima atinge tbm, os audiofilos…Parabens pelo review, vi a galera vendendo se não me engano esse fone e fiquei curioso sobre a sonoridade dele…
É impressão minha ou é a espeficação do V-MODA que está no lugar do LOGITECH!? “V-Moda Crossfade M-80 – US$200,00”
vc deveria escrever tbm no Head-Fi!!! já tem algum projeto?
mindtheheadphone
02/06/2013 at 14:12Já tinha visto o erro Thiago, obrigado! Já corrigi.
Cheguei a postar algumas coisas no head-fi, mas por enquanto prefiro continuar só no Brasil mesmo!
Um abraço!
César Augusto
04/06/2013 at 18:39Ótimo review, como sempre, Leonardo! Estou começando a achar que estou entendendo de fones. Só falta agora aprender a colocar isso no papel. Concordo com você em tudo. O Logitech UE6000 é um fone ruim sem o cancelamento de ruídos. O cancelamento dá uma turbinada no som, fazendo aparecer os graves, médios e agudos. Não é o fone que eu compraria para minhas filhas, mas não me importaria se encontrasse elas com os Logitech UE6000 nos ouvidos.
mindtheheadphone
04/06/2013 at 22:41Opa, muito obrigado, César!
Mas eu gosto do UE6000 justamente sem o cancelamento hahahaha!
Um abração!
Luis
07/06/2013 at 03:29Espetacular o seu site, muito bom saber que tem brasileiros aventureiros nesse mundo dos audiófilos hahaha
Estou iniciando nesse mundo, atualmente possuo um Superlux HD668B que importei de fora depois de ler demaaaais sobre ele. Não sei se conhece a marca e nem se chegou a ouvir algum modelo deles, mas sempre está bem cotado e o custo x benefício é espetacular (paguei em torno de 45 dolares quando comprei).
Como isso acaba viciando, estou lendo sobre dois modelos que SEMPRE estão em alguma lista de “best buys”.
Um é o Audio Technica ATH-M50 e o outro é o Grado SR80i.
Costumo ouvir bastante Rock e as vezes Pop, como vi que você já teve experiência com o Grado, pode me dar uma ajuda? Chegou a testar o M50?
Obrigado!
mindtheheadphone
07/06/2013 at 11:18Olá Luiz! Muito obrigado!
Eu infelizmente nunca pude ouvir um Superlux, mas sei que são, como você disse, extremamente bem conceituados em termos de custo benefício. É uma marca que adoraria conhecer.
Também nunca pude ouvir um M50, mas é outro fone muito famoso como um ótimo custo benefício dentro de sua faixa de preço. Mas, pelo que sei dele, já posso dizer que tem uma personalidade totalmente diferente da do Grado. Vai ser mais fechado, com uma quantidade maior de graves, que em compensação vão ser menos definidos. O Grado, em contrapartida, vai te dar um som mais leve, mais arejado e mais forte nos médios. O AT vai se apresentar como mais pesado e autoritário, e o Grado como mais agressivo (de forma muito positiva). São personalidades muito distintas, e sinceramente, acho que as duas se encaixam bem nos estilos que você ouve. Em termos físicos, provavelmente o M50 vai ser mais confortável e mais conveniente para o uso fora de casa.
Cabe a você escolher o que prioriza, mas acho que qualquer um dos dois vai te satisfazer, apesar de de maneiras muito diferentes.
Boa sorte e um abraço,
Léo
Carlos
18/01/2014 at 02:07Leonardo,
gostaria de saber qual dos fones você acha que se adequaria melhor aos estilos que eu ouço.
Eu ouço bastante coisa: rock, Jazz, MPB, indie e música clássica.
Eu cheguei a alguns nomes, mas não sei qual desses seria melhor: V-Moda, Sennheiser HD 25, UE 6000, Shure SRH 840, Audio-technica M50, Audio Technica A900x… também aceito sugestões!
Abraços!
mindtheheadphone
20/01/2014 at 15:15Olá Carlos!
Dessa lista, ficaria entre o HD 25, o UE6000 e o SRH840.
O HD 25 é um fone energético mas muito correto, tem bom isolamento e é confortável. O Shure é parecido, mas possui médios ligeiramente mais pra trás e frios, com um pequeno incremento nos médio-agudos, o que o confere uma maior clareza e transparência. É mais frio, mas mais transparente, o que é legal pra música clássica. É também muito confortável e com bom isolamento, mas é um trambolho – se seu objetivo é um portátil, o Sennheiser ou o Logitech são mais adequados. O UE6000 possui uma sonoridade muito natural. Com o noise cancelling desligado, é mais correto que o HD 25, mas ao mesmo tempo menos empolgante. O circuito ligado dá uma anabolizada no som, o que vc pode ou não gostar.
Não recomendo o V-Moda ou o M50 pelo incremento excessivo nos graves, o que pode ser interessante pra rock, mas MPB e música clássica vão ficar meio artificiais. Já o A900X é o contrário, sendo bem interessante pra música clássica, mas vai faltar energia pro resto.
Um abraço!
Renan Ambrósio
23/02/2014 at 00:46sou musico e queria saber se esse fone serve para tocar em palco ?
mindtheheadphone
23/02/2014 at 14:17Acho que existem opções melhores nessa faixa de preço pra esse fim, Renan. Por exemplo o Sennheiser HD 25-1 II.
Um abraço!