
Álbum: Pearl
Artista: Rubel
Gênero: Acústica
Gravadora: Independente
Lançamento: 2013
Faixas de destaque: Pearl, Quando Bate Aquela Saudade, Quadro Verde
História
Conheço o Rubel há um bom tempo. Estudou comigo desde quando tínhamos apenas 7 anos, mas só nos tornamos amigos quando fui chamado para sua banda em formação. Acabamos formando o grupo e tivemos dois anos de bastante divertimento – com direito a CD gravado e diversos shows. Infelizmente foram apenas esses dois anos, mas o que ficava claro desde aquela época era o quão talentoso Rubel é.
Ele sempre foi um dos compositores mais participativos, e com bastante frequência o que chegava com as melhores ideias. As melodias sempre foram excelentes, assim como os solos. Aliás, por falar em solos, me lembro claramente de quando ele deixou todo mundo na sala de controle em estado de choque, durante a gravação do nosso CD, com um solo improvisado em dueto com o saxofonista, Michel. Foi muito engraçado, e posso dizer a vocês, leitores, que gravar seu trabalho, e vê-lo tomando a forma que você quer, é uma coisa realmente incrível.
Por isso imagino como Rubel deve estar se sentindo em relação a seu último trabalho, o Pearl. Desde a época do final da banda, me lembro que ele estava mudando um pouco seu estilo musical – saindo do rock mais moderno e indo para um lado mais calmo. Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Mutantes, Bob Dylan e Bon Iver passaram a ser influências muito mais significativas do que as anteriores.
Alguns bons anos depois, após essa evolução consolidada, durante um intercâmbio, Rubel conheceu um grupo de músicos e, ao final de sua estadia, conseguiu gravar o Pearl. Quando voltou, ao esbarrar comigo na faculdade, comentou sobre o álbum e, sabendo que sofro de audiofilia aguda, perguntou o que eu achava. Ouvi brevemente, mas como eu estava num momento meio frenético, acabei não dando tanta atenção. Porém, pouco tempo depois, vi que muitos amigos meus estavam bem impressionados com o CD – pessoas de gostos musicais muito diferentes. E elas não ouvem com o objetivo de ouvir as músicas de um amigo. Ouvem pensando que querem ouvir músicas das quais gostam muito.
Inclusive, um amigo em comum, Marcelo, me contou que havia pegado carona com um amigo dele – que não conhece o Rubel –, e que ele estava ouvindo o Pearl achando que se tratava de um álbum de um artista grande, já conhecido. Custou a acreditar quando o Marcelo disse que era amigo do Rubel.
Depois disso tudo, num período mais calmo, parei para ouvir o Pearl. Bom, agora não consigo parar de ouvir.
O Álbum
É um pequeno EP, com sete músicas. O estilo deixa claro quais são as influências, e o que mais ouço é o folk americano – Sufjan Stevens e Justin Vernon (tanto solo quanto com Bon Iver e DeYarmond Edison) imediatamente me vêm a cabeça. Mas todas as canções possuem o estilo de escrita do Rubel – um que realmente aprecio, e está perto de clássicos da MPB.
A belíssima faixa de abertura, O Velho E O Mar, parece trazer um sentimento de determinação e esperança inabaláveis, e palavras sábias que literalmente parecem vindas de um velho que já aprendeu muito em sua vida: “When you wake inside/Lança o barco contra o mar/Venha ao vento o que houver/E se virar/Nada”. Mostra o que deve ser esperado do restante do álbum: melodias deliciosas, e uma linda mistura do familiar som do violão à brasileira com o tradicionalíssimo banjo do bluegrass americano, e mais à frente os dois dão espaço a um acordeom e um bandolim. Todos regados ao calmo, agradável e convidativo vocal de Rubel.
A próxima, Mascarados, traz mais referências ao MPB, e é tocada apenas por Rubel e seu violão. Conta uma história sobre uma menina que encontra uma máscara que passa a definir sua vida. É engraçado porque nunca liguei tanto para letras de músicas, e a melodia sempre foi o principal. Mas Mascarados traz uma linda narrativa que literalmente me prendeu. É simples, direta e honesta, e parece continuar a temática aberta na faixa anterior – fala sobre como Rubel vê a vida, de maneira metafórica. “E dizem que sorrindo ela entendeu/Que a vida só se dá/A quem se deu.”
Pearl, a faixa título, também um solo, entra numa transição quase imperceptível, e chega a parecer uma continuação da anterior. Mas não é, ao menos não liricamente. É, para mim, uma das melodias mais bonitas do EP, e fala sobre a experiência que Rubel teve no intercâmbio. Pearl é o nome de uma casa onde ele morou, no Texas. É uma faixa que me soa carregada de sentimentos, e por isso parece mostrar escancaradamente o que ele sentiu naquele lugar.
A faixa seguinte, Quanto Bate Aquela Saudade, consegue exatamente o mesmo efeito. Traz a banda de volta mas trata-se do que é, certamente, uma das declarações de amor mais sinceras que já pude ouvir. Não tenho a menor dúvida de que Rubel abriu o peito para escrever a música, e cada palavra deixa isso evidente. Perdoem-me o trocadilho, mas não há como evitar: é uma pérola.
Ben volta aos temas anteriores sobre a vida, e é como se o Velho da primeira faixa estivesse falando com um menino chamado Ben. É mais uma faixa que mostra como Rubel encara o mundo, de maneira metafórica mas ao mesmo tempo muito direta. Está, assim como a Mascarados, muito mais próxima do MPB (será o nome Ben uma referência a Jorge Ben Jor?).
Nuvem é também um destaque no EP, apresentando outra das melodias mais bonitas de Rubel, mais uma vez aliada a uma belíssima letra um pouco mais abstrata. Quadro Verde, a faixa de encerramento, me lembra um pouco a Pearl e é uma fantástica maneira de fechar o EP. Além da mais longa, é também a música mais complexa e, assim como a anterior, trata de temas um pouco mais complexos.
O resultado, na minha opinião, é um belíssimo álbum que, sinceramente, está no mínimo no mesmo patamar de qualquer uma de suas influências em todos os aspectos. É engraçado falar dele após ter escrito, nessa seção do blog, de obras grandiosas como as do Burial ou de Joanna Newsom. O trabalho de Rubel é totalmente diferente. São as palavras e os sentimentos de uma pessoa. Música é (ou deveria ser) arte, e arte é justamente isso, um meio de expressar sentimentos. E essa expressão, aqui, é feita com uma facilidade, uma sensibilidade e uma sinceridade absolutamente desconcertantes e, mais do que qualquer coisa, raríssimas.
A palavra que resume o Pearl, para mim, é encantador. Porque é extremamente raro encontrar músicas que sejam um retrato tão sincero, próximo e real dos sentimentos de uma pessoa. Algumas pessoas para as quais já mostrei esse CD me disseram exatamente isso. E por esse motivo, as músicas parecem criar uma conexão muito real com o ouvinte.
Numa entrevista recente, quando falava sobre suas influências, Rubel disse, sobre Justin Vernon: “…ele coloca muita sinceridade no que ele está fazendo, uma coisa que eu acho difícil de ver”. Devo concordar. Mas quando eu pensar em músicas que sejam assim, encantadoramente sinceras, Pearl vai ser a primeira coisa a vir em minha cabeça.
10 Comments
Felipe
11/07/2013 at 18:01Opa! Cara, achei seu site muito interessante e gostaria de lhe perguntar uma coisa. Tenho um Sennheiser HD 650, porém estou pensando em fazer um upgrade. Quais fones você me recomendaria? Quais são os melhores e quais seriam um salto realmente relevante de sonoridade? Sei do HD 800 apenas. Não sei se é o lugar mais adequado, mas sua resposta será de grande ajuda! Valeu!!
mindtheheadphone
12/07/2013 at 02:17Olá, Felipe!
Olha, depende muito do que vc procura… vc quer uma sonoridade diferente, ou quer manter a mesma personalidade mas com melhores habilidades? Do que gosta e do que não gosta no HD650?
Um dos fones que é frequentemente citado como upgrade lógico do HD650 é o HiFiMAN HE500, que inclusive tenho e avaliei. São mais parecidos do que diferentes, é meio que como um HD650 anabolizado.
O HD800 é diferente, porque ele segue um caminho totalmente distinto, e tem uma voz muito diferente (de certa forma até oposta à) do HD650. Em aspectos técnicos ele é consideravelmente superior, mas não são poucos que preferem o mais simples pra ouvir música. Eu sou um deles! Além disso, ele precisa de equipamentos associados bem pretensiosos pra realmente tocar bem. É chato de amplificar. O que vc usa com o HD650?
Mas então é isso, me fala mais sobre as suas preferências e suas opiniões acerca do HD650 que vai ser mais fácil te ajudar!
Um abraço!
Felipe
12/07/2013 at 14:03Opa!
Estou neste ”universo” dos ‘Hi-Fi Headphones’ há bem pouco tempo, portanto restrinjo-me a dizer apenas duas coisas que até então pareceram mais nítidas:
– Soa legal (como um todo, não saberia relevar um aspecto específico)
– O som parece ser consideravelmente ”escuro” (não que seja algo ruim, mas me despertou uma certa curiosidade sobre outros fones com uma sonoridade mais ”brilhante”)
Uso uma Apogee Duet 2 com o Sennheiser HD650. Dependendo, poderia fazer um upgrade de amp. também.
Resumindo: busco um fone que gere uma sensação parecida com a que tive quando coloquei o HD650 pela primeira vez. Aquele assombro. Um fone consideravelmente superior, que realmente justifique a troca, sendo interessante para os mais variados gêneros musicais.
Obrigado pela ajuda!
Abraço.
mindtheheadphone
13/07/2013 at 03:41Hmmm…
Olha, primeira coisa: se tudo o que vc tiver ouvido antes seja realmente ruim, acho que é muito, mas muito difícil ter esse primeiro choque de novo. É que nem a primeira vez que ouvi um sistema de caixas bom. Era legal mas nada demais, usava as Dali Suite 2.8, caixas que não chegam a 2 mil dólares. E vou te dizer que já pude ouvir sistemas muito mais sofisticados, mas nada me impressionou tanto quanto aquela primeira audição. Eu acho que ainda dá pra ter esse efeito, mas com fones consideravelmente mais sofisticados, como os eletrostáticos. Até o HD800 mesmo, mas só se fosse num sistema muito bem acertado.
Aliás, existe outra questão aí, que é a lei dos diminishing returns. Quando vamos subindo o nível, pagamos cada vez mais por incrementos cada vez menores. Por exemplo, a diferença de um fone de 30 pra um de 100 dólares é consideravelmente menor que a de um de 100 pra um de 1000.
De qualquer forma, se esse for o tipo de salto que vc procura, eu acho que é arriscado partir pra um upgrade “lógico”, como o HE500. Ele vai te apresentar meio que as mesmas habilidades do HD650 mas melhoradas, e isso pode te impressionar ou não. Se vc estiver disposto, uma coisa interessante seria justamente pegar um fone oposto, como um K701 ou um Grado RS2i. Eu acho que uma das grandes vantagens dos fones de ouvido é a possibilidade de ter diversas assinaturas sonoras com alguma facilidade. E como vc não chegou a ouvir outras assinaturas, acho que isso seria bem interessante. Até porque, talvez vc acabe preferindo, quem sabe? E aí vai dar pra saber melhor do que vc realmente gosta.
Essa seria minha sugestão. Testar um Grado ou um AKG. Na minha opinião, vai te dar as ferramentas pra, mais pra frente, fazer um upgrade mais certeiro. Não se esqueça que o mercado de fones aqui no Brasil anda bem aquecido, então não acho que vc vá ter problemas pra vender o que quiser.
Um abraço!
Felipe
15/07/2013 at 07:40Sem palavras! Muito obrigado pelas dicas, ajudou demais!
Uma última pergunta: em relação aos fones que você indicou, o AKG K701 e o Grado RS2i, quais seriam as diferenças mais relevantes entre eles? E entre eles e o HD650?
Abraço!!
🙂
mindtheheadphone
15/07/2013 at 14:27Eu cheguei a avaliar os três fones, vai te dar uma esclarecida! De qualquer forma, aí vai um resumo:
O AKG K701 vai te dar uma apresentação muito mais leve, arejada e espacial que o Sennheiser, com graves mais comedidos mas mais firmes, médios até parecidos, e agudos mais presentes. Já o RS1i é bem mais extremo! Ele é mais energético que os dois em todos os sentidos. Tanto o AKG quanto o Senn têm graves meio que cheios e extensos, mesmo que em menor quantidade no K701. Só que no Grado eles são uma porrada, com muito mais impacto. Os médios também são bem mais pra frente, e muito mais transparentes que nos outros dois. O mesmo pros agudos. Ele tem uma apresentação mais física, mais visceral, é difícil de explicar.
Acho que os três seriam uma belíssima tríade que pode te mostrar pra onde vc deve fazer um upgrade mais significativo! E de toda forma, com essas três personalidades diferentes talvez vc já fique satisfeito e veja que não precisa de um upgrade. Minha sugestão é ficar de olho nos classificados do head-fi para pegar um bom negócio nos dois. Com muita frequência eles aparecem! E quanto ao AKG, serve K701, K702, Q701, K702 65th Anniversary Edition e K712. Na verdade são todos baseados no K701/2, com algumas pequenas diferenças. Minha dica é pegar um com bom preço. Dá pra achar K701/2 por mais ou menos 250 dólares. Já o RS1i é mais caro, mas também aparece com frequência, e costuma custar perto dos 500. Mas, se vc conseguir pagar pouco imposto, dá pra revender aqui no Brasil numa boa exatamente pelo mesmo que pagou, por exemplo no HTForum ou até mesmo no MercadoLivre!
Quando tiver tomado uma decisão me conta, estou curioso pra saber o que vc vai fazer e suas impressões sobre o resultado.
Um abraço!
Felipe
03/08/2013 at 11:18Oi, Leonardo!
Voltei para te dizer que estou próximo de seguir o seu conselho: pegar o AKG K702 e o Grado RS1i. Ambos usados, porém bem conservados, por R$ 2.000. O que acha? Pelo que você disse e pelo que li, me parecem dois fones com assinaturas bem distintas, porém igualmente interessantes. Fiquei curioso tanto pela ”visceralidade” do RS1i quanto por um fone com uma apresentação mais leve, arejada, que parece ser o caso do ”AKG K701/2”. Além disso, possivelmente darão um embasamento maior antes de despender minha alma em um eletrostático. 😛
Obrigado novamente pelas dicas.
Abraço!
Felipe
03/08/2013 at 12:00Ah, uma pergunta: será que a Apogee Duet 2 segura o Grado RS1i?
mindtheheadphone
03/08/2013 at 17:58Opa, que maravilha, Felipe!
Aliás, coincidentemente o Leandro (madhat) do HTForum anunciou os dois né, vc vai pegar os dele? E cara, independente de serem os dele ou não, acho que por R$2.000 é um negócio sensacional! É praticamente o que vc pagaria por eles lá fora. São de fato fones muito diferentes, e acho que vc vai gostar muito do que vai ouvir dos dois. E se não gostar, por esse preço, vende facilmente sem qualquer perda. Eu mesmo adoraria comprar esse RS1i, mas agora não tenho como 😛
Quando estiver com eles me conte! E acredito que a Apogee segure o Grado sim, os fones da marca não costumam ser nada difícil de empurrar. Dá pra usar com players portáteis, inclusive! Quer dizer, daria, se não fosse pelo cabo, pelo isolamento zero e pelo vazamento.
Um abração!
Vitor
24/09/2013 at 02:11Albúm sensacional….