
INTRODUÇÃO
É oficial, e hoje em dia admito com orgulho: sou fã da Grado. Recentemente comprei um RS1i, que chegou para ficar ao lado do meu HP1. A excentricidade da marca, aliada à sonoridade única no mercado – aos interessados, leiam mais a respeito no meu comparativo do HP1000, RS1i e PS500 –, compõe produtos totalmente diferentes de tudo o que se vê por aí. E eu adoro isso.
O SR60i é o full-size mais barato da marca, e é tido, com bastante frequência, como um fone com uma das melhores relações custo-benefício do mercado, junto com o irmão maior SR80i, que já cheguei a avaliar. É (assim como todos os fones da linha SR) um supra-aural aberto, de 79 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS
O SR60i é, fisicamente, igual – exceto por alguns detalhes como pads, headband e cabo – aos outros modelos da linha, com exceção do SR325i, que tem o corpo de metal. Ou seja: visual vintage, corpo de um plástico tosco, e conforto em segundo plano.
Não é que seja um fone desconfortável, já que é bem leve, mas após algum tempo o headband sem qualquer traço de acolchoamento começa a incomodar. O ajuste de altura é efetivo e funciona por meio de um mecanismo extremamente simples: duas barras, presas aos cups, que deslizam sobre uma peça de plástico presa ao headband.
Por se tratar de um fone aberto o isolamento é obviamente inexistente e há considerável vazamento de som, o que atrapalha o uso portátil. O cabo também não ajuda, porque apesar de ser mais fino que os dos modelos mais sofisticados da marca (o do RS1i provavelmente é mais pesado que o próprio fone), ainda é consideravelmente grosso e bem longo, apesar de terminado com um P2. Mas não é impossível. Conheço uma pessoa que usa um todo dia na faculdade.
O SOM
Um grande amigo uma vez me disse que acha que todos os Grados são exatamente iguais. E o engraçado é que, até certo ponto, tenho que concordar. Claro que não são exatamente iguais em termos de assinatura sonora, mas há um som da casa muito presente em todos os produtos da fabricante.
Conforme vamos subindo a escada, vamos tendo refinamentos aqui e ali, e o som vai indo em direções um pouco mais extremas, mas de modo geral todos são sim bem parecidos. É diferente de praticamente todas as outras marcas que conheço, que possuem produtos com personalidades totalmente dissonantes em linhas diferentes.
E, para os que não sabem, a característica principal da Grado é uma sonoridade na cara do ouvinte, com médios para a frente e bastante impacto. Não são poucos os que a detestam, mas também não é a toa que a marca conseguiu uma legião de fãs dentro e fora do círculo audiófilo.
O SR60i já de início mostra a que veio e não decepciona – estamos falando de um membro orgulhoso da família.
Descobri um álbum muito interessante recentemente, que é atual mas tanto as músicas quanto sua sonoridade geral são bem antiquadas: Fanfare, de Jonathan Wilson. Ele é exatamente o que se precisa para mostrar para alguém pra que serve um Grado. A Dear Friend já deixa claro qual é o apelo desses fones. Somos recebidos com uma grande dose de refinamento – muito acima do que se espera nessa faixa de preço –, com detalhamento surpreendente, e uma sonoridade aberta. Muitos podem achar que falta graves, mas não é isso que importa aqui.
Quando o refrão entra, a voz de Wilson e as guitarras arranhadas rasgam os ouvidos com bastante vontade, e o fone parece pegar seu pé à força e batê-lo no chão no ritmo da música. É sensacional! Pouco depois, há uma seção um pouco mais psicodélica, com um solo de guitarra no meio de um belo instrumental. Aqui, o SR60i mostra grande abertura e excelente separação instrumental. Os médios definitivamente são o centro, e não é à toa: a marca sabe o que faz nessa região.
Não há o envolvimento tradicional que muitos fones nessa faixa de preço podem proporcionar com graves presentes e autoritários – ao invés disso, a Grado te oferece uma sonoridade muito crua e direta, totalmente centrada na região média. Não é que os graves sejam ruins ou ausentes – eles têm boa presença e ótima definição e textura, mas definitivamente não são o foco da apresentação. Há, no entanto, um leve pico nos médio-graves, que em alguns momentos pode sangrar um pouco nos médios.
Os agudos também se saem muito bem. Não têm a extensão, o refinamento ou o corpo dos fones mais sofisticados da marca, mas mais uma vez mostram habilidades bem impressionantes para um fone nessa faixa de preço.
CONCLUSÕES
Não há como negar que esse fone de meros 80 dólares me deixou muito empolgado. A questão é que a Grado faz fones como ninguém, eles são muito diferentes de qualquer outra coisa que existe no mercado.
Devo dizer, porém, que tenho grandes ressalvas. Tenho total consciência de que eles não são para qualquer pessoa. A singularidade que os caracteriza é muito bem vinda por mim, mas conheço muitos que não concordam. E, quando não concordam, o amor vira ódio.
É algo muito difícil de explicar, mas quando penso nos fones da marca em geral, comparados a, digamos, o HiFiMAN HE500, não tenho dúvidas de que o chinês é mais completo. Mas é como se ele fosse mais hi-fi de certa forma, e soasse mais como um sistema high-end. Os Grados parecem ser o real deal. Sei, no entanto, que muitas pessoas não querem esse real deal cru. Querem precisamente o envolvimento, o relaxamento (o SR60i é, como qualquer Grado, bem fatigante), a doçura ou o impacto e autoridade que os fones da marca simplesmente não oferecem. Seus objetivos não são esses. Música eletrônica, pop ou hip-hop não funcionam.
Porém, aqueles que gostam de rock e jazz ou qualquer gênero acústico e que quiserem arriscar para ver como é o modo Grado de fazer as coisas, já vão entender perfeitamente do que se trata com o SR60i. E, se gostarem, é caminho sem volta: a diversão que esse fone proporciona com as músicas me parece inversamente proporcional ao seu custo.
Grado SR60i – US$79,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 32 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 98 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 20Hz – 20kHz
Equipamentos Associados
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, M2Tech Hiface, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X, Woo Audio WA3
23 Comments
Anônimo
21/10/2013 at 20:21Eis a questão, onde encontrar um Grado Sr60i por apenas US$79,00? Vejo preços exorbitantes em cima deles, beirando US$130,00…
mindtheheadphone
21/10/2013 at 20:25Aqui! http://www.headphone.com/headphones/grado-sr-60i.php 🙂
Anônimo
21/10/2013 at 20:34Tinha me animado quando vi o preço, fui dar checkout para confirmar o valor, e surgem meros US$97.79 de frete.
mindtheheadphone
21/10/2013 at 20:43Ah, sim… talvez a dica seja entrar em contato com a Grado para pedir o contato direto de alguns distribuidores, até que algum tenha o frete mais razoável, ou buscar um usado. Mas isso é de se esperar no Brasil – normalmente coloco o preço original em dólares porque, caso tenha meios, o leitor pode conseguir o produto por esse valor.
Arlan Cantalice
22/10/2013 at 18:41Olá, tudo tranquilo? Segui sua dica e comprei o Kef m500.
Qual seria o grado para se escultar música Classica ??
mindtheheadphone
22/10/2013 at 19:44Olá Arlan,
Na verdade acho que os Grados, apesar de funcionarem bem com música clássica, mostram a que vieram com rock clássico, jazz e gêneros acústicos como folk. A exceção é o GS1000i e talvez o PS1000, que têm um palco sonoro maior que o normal da marca, mas são muito caros. Então acho que o ideal seria testar um SR60i ou SR80i para ver se a assinatura sonora te agrada. Se isso acontecer, aí vc pula para um modelo mais sofisticado!
Um abraço!
Vitorio Jr
29/10/2013 at 02:46Olá Leonardo tudo bem?
Curti muito Fanfare, de Jonathan Wilson, você poderia me indicar mais alguns cantores?
Onde posso conseguir musicas com qualidade exelente?
Qual o formato e a qualidade adequada para se obter o melhor som possivel?
Excelente review!
mindtheheadphone
10/11/2013 at 23:51Obrigado Vitorio,
Alguns que julgo razoavelmente parecidos são DeYarmond Edison e Chris Whitley. Um MP3 a 320kbps já vai te dar um excelente resultado, mas se quiser melhor (acho indistinguível) há os formatos lossless, sem compressão, como FLAC, WAVE, AIFF e ALAC. Esses arquivos também podem vir em resoluções maiores que as de um CD, mas também acho que a diferença é notável. A qualidade da gravação é muito mais importante.
Um abraço!
Guilherme Sarmento
07/11/2013 at 12:36Ótimo review!
Resolvi investir em fones de ouvido há pouco tempo e comprei um básico e com bom CxB (Superlux HD681) que pelo que me parece, tem as mesmas características desse; a prioridade para os mids, o que eu acho excelente para o tipo de música que ouço (heavy metal em geral). Isso acaba trazendo clareza e destaque para todos os instrumentos e o resultado é surpreendente.
É uma pena que esse fone não tem noise-isolating, pois senão seria ótimo para ouvir no ônibus. A propósito, será que a Grado tem algum fone com isolamento externo? E dá para comparar o SR60i com o meu HD681, ou a diferença é muita?
Abraço!
mindtheheadphone
07/11/2013 at 12:41Olá Guilherme!
Todos os modelos da Grado são abertos, exceto os in-ears. Nenhum dos full-sizes é fechado, mas é parte da filosofia da marca!
Quanto à comparação do SR60i com o Superlux, infelizmente não sei te responder. Esses fones são tidos como com um belíssimo custo benefício – eu quero muito ouvir um, aliás –, mas é só isso que sei!
Um abraço!
Kevin
18/11/2013 at 23:33Olá Leonardo,
Comprei um Grado Sr60i para me introduzir no hobby, embora já tivesse adquirido outros dois IEM’s de qualidade razoável. O que acontece, é que meu celular está com problemas na saída para fones de ouvido, e meu notebook, não tem uma placa de som muito boa. Tem alguma sugestão pra mim? Compro um MP3, como o sansa por exemplo, ou invisto em um DAC? Não queria gastar muito, R$100, R$150.
Fernando
02/01/2014 at 10:00Gostaria saber qual devo comprar grado sr60i ou grado sr80i? Já que o preço e pouca diferença, e quanto ao som e muita diferença?
mindtheheadphone
02/01/2014 at 11:31Fernando, é difícil dizer, porque eu posso interpretar a diferença como grande e vc como pequena, e vice-versa. De qualquer forma, o SR80i é um pouco melhor, e como a diferença de preço é pequena, talvez valha mais a pena.
Um abraço!
Caio Ferrari
31/01/2014 at 16:35O 80 tem um tanto mais de graves e agudos mais suaves. Ele não é velado, só é mais suave. Dá para ouvir em volumes mais altos sem irritar.
Ambos são excelentes. Acho mais questão de gosto do que de qualidade. Eu prefiri o 80, tem muita gente que prefere o 60.
mindtheheadphone
02/02/2014 at 17:12Bom, Caio! Faz muito tempo que tive o SR80i, mas o que vc disse bate perfeitamente com a minha memória.
De toda forma, na minha opinião, ambos são excelentes fones!
AM
04/04/2014 at 18:12ola ! onde comprar no BR por gentileza. SP
mindtheheadphone
04/04/2014 at 22:59Olá AM,
Dá pra procurar isso no Google – o distribuidor oficial é a AudioHeaven, mas de vez em quando eles aparecem no MercadoLivre por um preço mais em conta.
Um abraço!
Marcos Filho
12/05/2014 at 16:26Hey Leonardo! Uma pergunta básica, esse Grado carece muito de amplificação ou posso liga-lo ao notebook sem medo?! Grande abraço!
mindtheheadphone
16/05/2014 at 20:08Pode ligar sem medo, Marcos! O único problema é que existe a possibilidade de a saída ser ruim, com chiados excessivos. Nesse caso, vc precisaria de um DAC e um amplificador, mas não se preocupe com nada muito potente. Qualquer coisa minimamente decente (como o HiFiMAN HM-101) já vai servir.
Um abraço!
Leonardo Rubik Junior
20/07/2014 at 21:45Estava interessado em um grado que está no HTforum mas queria um fone com um agudo mais imponente e um grave mais tímido, e um bom sound stage, recomenda algum? sem limite de custo
mindtheheadphone
21/07/2014 at 03:16Olá Leonardo,
Se vc não tem limite de custos e busca um fone com agudos fortes e graves mais recuados, minha recomendação é certamente o Sennheiser HD800, que avaliei recentemente e custa 1.500 dólares. Ele inclusive possui o melhor palco sonoro que já ouvi em qualquer fone de ouvido. Outra opção, com as características dos graves e agudos ainda mais acentuadas, é o Sony SA5000. O problema é que ele não é mais produzido, mas eles de vez em quando aparecem nos classificados do Head-fi custando em torno de 400 ou 500 dólares.
Caso queira realmente ignorar as barreiras de custo, uma opção mais indicada ainda é o Stax SR-009, de 4 mil dólares, mais o amplificador Blue Hawaii SE, de 5.600.
Um abraço!
Bruno B. Silva
18/11/2015 at 22:03Nossa kkkkk, eu sei que ele disse que não há limite de custo, mas indicar um Stax SR-009, junto de um Blue Hawaii SE kkkkkk, é pra maltratar. Embora sejam esses o alto do pináculo de praticamente todos os audiófilos.
Obs.: Me desculpe por responder a algo já tão antigo, é que me chamou a atenção essa sua indicação, não de fones, mas de verdadeiros suprassumos!!
Mind The Headphone
18/11/2015 at 22:09Ué, simplesmente respondi a pergunta 😛
Inclusive, por ela, não era nem pra indicar o HD800 ou o SA5000, era pra ir direto no SR-009 hahaha!