
INTRODUÇÃO
Isso provavelmente virá como uma surpresa para muitos, mas existe outra marca que fabrica fones eletrostáticos além da Stax (e da recente KingSound), e não é uma pequena fabricante boutique. É a boa e velha Koss, que produz o PortaPro que você tanto vê na televisão.
A marca começou a fazer fones que usam essa tecnologia no final da década de 50, e o ESP950 é o mais atual da linhagem, apesar de ter sido introduzido no início da década de 90. Trata-se de um circunaural aberto eletrostático, que já acompanha um energizer, o E/90(amplificador específico para esse tipo de fone) e apesar de o preço de tabela ser 999 dólares, o conjunto pode frequentemente ser encontrado por entre 600 e 700 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS
O visual retrô não deixa dúvidas de que estamos falando de um fone de mais de 20 anos de idade.
Ele é todo construído de plástico e definitivamente não me parece um fone que custava mais de 1.000 dólares. Não há muita solidez, e basta mexer um pouco nele para ouvir aqueles rangidos naturais de produtos que usam muito plástico. Alguns detalhes são especialmente decepcionantes: por exemplo, as espumas laterais (que felizmente são removíveis) são revestidas de vinil, como em muitos fones baratos, então é uma questão de tempo até que elas descasquem. O E/90 também é apenas uma pequena caixa de plástico, cujo adesivo da frente já está descolando na unidade que está comigo, e tudo nele me parece simples demais. O LED verde/vermelho é daqueles comuns em brinquedos, e tanto o botão de ligar e desligar quanto o de volume dificilmente poderiam ser mais simples. Aliás, aqui também tenho uma outra reclamação: o botão de volume é duplo, e permite que ambos os canais sejam ajustados independentemente. À primeira vista isso pode parecer interessante, mas detesto essa função porque sempre tenho que ficar procurando ajustá-los ao mesmo nível, o que é difícil. E por que diabos alguém iria querer ter cada canal com um volume diferente?
Terminadas as críticas, também tenho elogios: primeiro de tudo, não posso deixar de elogiar a Koss pela fantástica garantia. Pelo que pude ler, o ESP950, talvez pela construção simples, é um fone que apresenta problemas com muita facilidade – mas, aparentemente e felizmente, a marca possui um pós-venda para compensar. A garantia é vitalícia, e a marca substituirá o fone ou o amplificador diante de qualquer problema, sem fazer perguntas.
O relato de um forista no Head-fi é especialmente impressionante: ele teve dois problemas com o fone, sendo que um deles foi destruído por um protótipo de amplificador que não estava funcionando corretamente. Ambos foram substituídos sem qualquer pergunta ou prova de compra e, num dos casos, a marca também substituiu o E/90 porque o original estava ligeiramente danificado na frente – sem que o usuário pedisse! Apesar de aparentemente o fone ser problemático, é muito bom saber que qualquer problema será prontamente resolvido.
Segundo, o fone é muito leve e não há pressão lateral ou superior significativa – acho, inclusive, que é um dos fones mais confortáveis que já usei. Não é difícil esquecer que ele está na cabeça.
E por último, o ESP950 na verdade é um sistema, e bem completo. Além do fone e do E/90, há uma luxuosa bolsa de couro para transporte do fone (que se desmonta – as conchas se destacam do arco ao apertar um botão) e de todos os acessórios. E são vários: há uma alça para que a bolsa possa ser pendurada nos ombros, um cabo extensor para o fone, um arco reserva e duas fontes para o E/90. Uma delas é para ser ligada na tomada mas a outra, curiosamente, na realidade é uma caixinha onde são encaixadas 6 pilhas tipo C, o que faz com que o sistema funcione sem a necessidade de tomadas! Some a isso a entrada P2 na frente do E/90 e temos um sistema portátil facilmente e convenientemente transportável.
O SOM
A grande vantagem dos fones eletrostáticos em relação aos dinâmicos é o fato de a parte móvel do alto-falante ter massa basicamente risível. E como não há massa para mover, o resultado é um desempenho espetacularmente transparente, com detalhamento e velocidade impressionantes, sem atividade residual do falante. Geralmente, fones desse tipo possuem uma sonoridade leve e pura, por assim dizer. Ouve-se tudo o que está na gravação, e sons nascem e morrem com extrema precisão temporal.
Os ESP950 está entre os eletrostáticos que tendem para uma personalidade mais musical e eufônica, assim como o Stax SR-007. O extremo detalhamento não é apresentado de forma vulgar ou escancarada; mas basta prestar atenção que vê-se que tudo o que está na gravação está ao seu alcance se você quiser ouvir. E tudo é apresentado de uma forma muito elegante e doce.
Tonalmente o Koss é muito equilibrado e natural, mas não é perfeito. Ele me parece um pouco mais centrado nos médios do que eu consideraria neutro, e essa é uma característica que fica evidente quando o comparo ao Sennheiser HD600. Vozes têm mais corpo e presença e são mais calorosas e intimistas. No Sennheiser elas são mais distantes, granuladas e agressivas.
Essa é justamente a melhor característica do ESP950: como ele apresenta vozes, especialmente as femininas. A região média é muito natural, mas de um jeito mais suave e romântico. Para gêneros acústicos, como a Numb do Sam Brookes, a Wild Ones, da banda Bahari ou a Ribbon, da Billie Marten, o resultado é realmente encantador.
E os agudos ajudam: eu descreveria a presença deles como delicada. Eles estão ali, muito articulados, com boa integração com os médios, são muito transparentes e apresentam uma belíssima renderização de timbres, mas ao mesmo tempo são inofensivos, doces e muito tranquilos. Me lembram muito o JH Audio Roxanne, o que é um belo elogio.
No final das contas, a impressão que tenho é que a presença das regiões mais altas é ideal. Eles parecem trazer um complemento aos médios quando essa é a intenção – a sensação de ouvir cada detalhe da voz, cada sopro, cada toque dos lábios, é uma experiência realmente imersiva – mas, quando o objetivo é se destacar, como nos pratos de bateria na It Could Happen to You, da Diana Krall, eles definitivamente não decepcionam.
E não é só para gêneros calmos que os médios e agudos são bons: quando o que se quer energia, ele acompanha. Sinceramente, nessas regiões, tudo o que joguei para o Koss foi muito bem cuidado. Rock, música eletrônica, hip-hop… e o mesmo pode ser dito para o outro extremo, música clássica. Está tudo ali.
Entretanto, o ESP950 não é perfeito. Em primeiro lugar, os graves são tímidos. Apesar de a extensão ser boa, eles não têm muita presença. Até mesmo o próprio HD600, que não é bem um monstro de graves, traz um incremento significativo nessa região. Em gravações que naturalmente apresentam muito peso nas baixas frequências, como a Bogotá do Criolo ou o remix do ViLLAGE da Gods and Monsters, da Lana Del Rey, os graves tornam-se apenas satisfatórios.
Aparentemente, essa é uma característica que melhora consideravelmente com o upgrade do amplificador. O E/90, pelo que leio, é bastante limitado pelo amplificador incluso, e passar para alguma unidade da Stax (ou até mesmo um KGSSHV ou HeadAmp BHSE, como li em alguns relatos), o que requer um adaptador, traz resultados significativamente melhores, principalmente em termos de presença nos graves.
Dito isso, devo deixar claro que os graves que estão ali mostram muita qualidade. Não há exatamente o peso e a autoridade dos dinâmicos e principalmente dos planar-magnéticos, mas as frequências mais baixas são apresentadas com ótimo detalhamento e texturização. Não são secos, mas também não são indefinidos. Eu gostaria muito que ele tivesse mais presença nos nessa região, porque como disse anteriormente, gosto muito do que os médios e os agudos fazem independente do estilo musical.
Outro problema do ESP950 é a total falta de espacialidade. Há o efeito “parede de som”, ou seja, não parece haver uma distância significativa entre os instrumentos dentro de um espaço devidamente renderizado. É importante não confundir com separação instrumental, quesito no qual o Koss é excelente. Mas basta compará-lo diretamente ao próprio HD600 para ver que esse último, que já não é bem o rei da espacialidade, é muito mais competente nesse aspecto. Colocar o HD800 em especial, após o ESP950, me deixou em choque com suas habilidades espaciais. É uma daquelas situações em que ouvir um extremo oposto revela o quão incrível alguma coisa de fato é.
CONCLUSÕES
Esses defeitos, porém, estão muito longe de arruinar o desempenho do Koss ESP950, que me mostrou ser um excelente fone.
Me parece que seu objetivo não é impressionar com os diversos benefícios dos falantes eletrostáticos. Eles estão ali, mas parecem estar escondidos atrás de muita delicadeza e doçura, perceptíveis apenas se você procurar por eles. A música é o foco, e ele não deixa que suas proezas técnicas assumam a linha de frente. Elas estão lá para servir a arte da música, e não o contrário.
Por isso, nos gêneros certos, como boas gravações acústicas que não requerem muita presença nos graves, o ESP950 se destaca. Minha maior reclamação é a total falta de espacialidade, mas é algo com o qual me acostumo sem reclamar para poder desfrutar daquilo que o Koss faz muito bem – que é, principalmente, encantar com vozes espetacularmente intimistas porém transparentes e muito naturais.
A construção simples e os frequentes defeitos assustam, mas a incrível garantia vitalícia e o completíssimo pacote incluso no ESP950, em minha opinião, compensam. E se considerarmos o desempenho fantástico para os gêneros certos, ele mostra ser não só uma bela introdução ao mundo dos eletrostáticos mas também um fone incrível pelo preço.
Koss ESP-950– US$999,00
- Driver dinâmico eletrostático
- Impedância (1kHz): não aplicável
- Sensibilidade (1kHz): 104 dB/100Vrms
- Resposta de Frequências: 8Hz – 35kHz
Equipamentos Associados:
Mac Pro, Yulong D100
16 Comments
Rafael Paulucci
13/04/2015 at 16:56Leo, mais um excelente review. A sonoridade desse fone me pareceu próxima ao do Stax 202. Em relação a garantia vitalícia, isso é comum a todos os fones da Koss, até o Porta Pro tem. A sua duvida sobre o amp ter controle de volume por canal, isso é bom para fones eletrosestáticos, pois eles costumam vir desbalanceados de fábrica, e você regula no amp. O Érico já teve uns 3 Staxs que vieram desbalanceados, incluindo um 009.
Mind The Headphone
14/04/2015 at 20:54Opa, muito obrigado, Rafael!
E sobre o controle de volume, rapaz, não sabia disso! Agora, receber um fone de 5 mil dólares com canais desbalanceados é de doer… eu sabia que esse foi um problema frequente no início da produção do SR-009, mas não sabia que se estendia a outros modelos eletrostáticos também!
Obrigado pelo comentário, cara! 🙂
Abração!
Altrunox
13/04/2015 at 23:42Acho que eu esperava mais desse headphone…
Mind The Headphone
14/04/2015 at 20:55Eu gostei, Giovani! Não é perfeito, mas achei muito legal.
Thiago A.
14/04/2015 at 03:18Mais uma ótima resenha, apesar do fone não ser uma maravilha, pela resenha vi que cumpre o que promete, e a parte de muitos problemas e recompensada por todos esses acessórios inclusos e essa garantia vitalícia, que ao meu ver foi propositalmente pensada.
Mind The Headphone
14/04/2015 at 20:55Obrigado, Thiago!
Willian Chaves Cardoso
19/04/2015 at 19:35Como sempre mais um ótimo review Leonardo, parabéns.
Tenho muito curiosidade em ouvir (e ter um) fone eletrostático num futuro próximo.
Deixe-me perguntar: Como porta de entrada para o mundo dos eletrostáticos, o ESP-950 pode ser considerado o melhor custo x benefício?
Andei pesquisando sobre a king sound, mas garantia vitalicia da Koss é muito interessante.
Mind The Headphone
20/04/2015 at 00:29Muito obrigado, Willian!
Assim… se vc quiser um fone pra te mostrar do que os eletrostáticos são capazes, tendo em vista que seria como uma introdução, já considerando upgrades futuros, eu optaria pelo combo Stax SRS-2170, que conta com o fone SR-207 e o energizer SRM-252S.
A questão é que esse sistema talvez apresente uma versão mais extrema dos falantes eletrostáticos, porque a quantidade de detalhes é absurda. É como se todos os fones que vc estivesse ouvindo até então tivessem um véu por cima. Ele não é tão eufônico e melódico quanto o Koss, mas com o ESP-950 os grandes benefícios dos eletrostáticos não ficam tão incrivelmente evidentes assim, entende?
Mas se o objetivo for pegar um excelente fone, independente da tecnologia, aí considero o Koss mais interessante porque é um fone musical. Mas com ele vc não vai notar tanto assim as superioridades dos eletrostáticos!
Sergio Henrique
22/05/2015 at 05:02Parabens excelente qualidade o site, queria sua opiniao por favor, entao estou preocurando um fone no valor de ate 300 reais, mas se indicar uns modelos acima um pouco ou abaixo do valor sera bem vindo, eu escuto rock (foo fighters, acdc) e seus derivados alternativos indies( metric, the kooks), reggae etc, estava vendo alguns modelos das marcas Philips cityscape, skullcandy aviator e sennheiser mais como sao muitos modelos da sennheiser fiquei na duvida, e so uma pessoa com a sua experiencia pra me ajudar.
obrigado pela atençao
Mind The Headphone
23/05/2015 at 21:27Olá Sergio, obrigado!
Olha, nessa faixa de preço a Sennheiser até tem alguns fones, mas como vc quer algo que dê para usar na rua, eu daria uma olhada no Philips Citiscape Uptown ou, se vc conseguir dentro desse orçamento, o Skullcandy Aviator. Da Sennheiser, nessa faixa de preço, há o HD202-II, mas acho que é inferior ao Skullcandy e ao Philips.
Um abraço!
Sergio Henrique
23/05/2015 at 22:07Mais se você tiver uma, opção mais pra ser usado dentro de casa sem preocupar cm beleza nessa faixa de preço q atenda os estilos musicas q eu listei ai em cima qual você indicaria poderia indicar uns 3 modelos cm valores crescente num valor máximo 400 reais.
Mind The Headphone
24/05/2015 at 16:32Mas por que mínimo 200? Em fones, mais caro não quer dizer necessariamente superior. Não gosto muito do HD 205 e nunca ouvi o HD419.
Mas com 400 reais, pros estilos que vc ouve e pra ouvir em casa, minha maior sugestão é o Grado SR80 (em suas variações i ou e, tanto faz). Vc teria que importar, mas dá pra procurar um usado nos Classificados do Head-fi e mandar vir pra cá. Acho difícil fone melhor pra esses estilos dentro dessa faixa de preço.
Um abraço!
Jonathan Kenichi Makiyama
24/02/2016 at 22:26Parabéns pelo site! Cada vez que leio um dos seus artigos eu aprendo um pouco mais sobre qualidade sonora! Adorei de verdade.
Eu gostaria de saber a sua opinião. Eu tenho um shure 240a, e sinto que falta graves nele. Por isso, eu pretendo comprar um outro fone, de até uns 300 reais que tivesse graves mais marcantes. Qual sua sugestão para esse caso? O fone não precisa ser bonito, só usarei em casa mesmo!
Obrigado! Abraço!
Mind The Headphone
26/02/2016 at 15:54Olá Jonathan, muito obrigado!
Olha, se for um fone pra complementar o Shure, e não substituí-lo, acho que vale tentar um JBL J88i ou talvez um Sennheiser HD 202 II.
Um abraço!
Jonathan Kenichi Makiyama
27/02/2016 at 11:59É para complementar mesmo!
Eu sempre ouvi coisas ruins da JBL, mas se você está dizendo, hoje mesmo vou testar o modelo!
E apenas por curiosidade, qual suas impressões do Philips Fidelio M1/00? Eu tenho lido boas reviews dele, mas devido à alta impedância, tenho medo de que eu não consiga um bom desempenho sem um amplificador. Eu achei ele por R$500,00.
Também vi o Philips A3-PRO por R$375,00.
Também, ontem li o seu Guia do MindTheHeadphone! Muito bom o livro! Parabéns pelo trabalho! Li inteiro em 8 horas direto! Excelente trabalho!
Mind The Headphone
28/02/2016 at 12:48Jonathan, não é um fone incrível, mas o considero bem competente pelo preço!
Sobre o Fidelio M1, infelizmente nunca ouvi – mas a impedância dele é 16 ohms, ou seja, extremamente baixa. Também nunca ouvi o A3PRO! Mas a Philips é uma marca bem interessante, e costuma fazer modelos mais baratos bem competentes.
E fico muito feliz que tenha gostado do Guia! 🙂
Um grande abraço!